quarta-feira, 14 de abril de 2010

98 anos do Naufrágio do Titanic, uma semana do Naufrágio do Rio

Oi, como vai você?
Pois é, eu não morri no apocalipse aquático do Rio de Janeiro. Eu não postei sábado passado por ser relapso mesmo.
Mas na verdade foi pelo contrário, imagine ter que escrever uma monografia em História e um blog de História AO MESMO TEMPO. Não dá muito certo às vezes. Eu ia acabar confundindo as coisas e escrevendo em linguagem não ortodoxa na minha monografia e em linguagem acadêmica aqui. O resultado disto seria ser reprovado e ainda perder todos os meus (três) leitores! Houve outros contratempos também. A casa estava cheia. De GENTE, não de água, pelamordedeus! Então eu não tive como me concentrar direito.
Isso não significa que eu esteja concentrado agora! Eu não estou. Como vocês podem perceber eu estou jogando conversa fora, como muitos professores nas faculdades fazem quando não estão com vontade de dar aula.
Mas vamos ver, o que eu posso falar hoje?
Ou melhor, escrever!
Isso me lembrou uma professora da faculdade. Ela fazia um escândalo quando os alunos escreviam “falar” na prova, ela os humilhava publicamente, afinal, não se fala numa prova, num livro, num papel, ela EXIGIA que você escrevesse “escrever”, por exemplo, você escrevendo na prova, citando um autor:
“Então fulaninho disse/falou que blábláblá” = humilhação pública na frente da classe.
“Então fulaninho escreveu/dissertou que blábláblá” = a professora não vai te humilhar.
Essa é uma das frescuras do mundo acadêmico. Se vocês um dia fizerem redação para concurso fiquem atentos a este detalhe!
Mas onde eu estava mesmo?
Ah é! Um assunto.
Bem, eu pensei em falar, perdão, perdão, perdão!!!! ESCREVER, um pouco sobre a história dos grandes transatlânticos, mas então depois eu pensei em escrever sobre naufrágios, e depois eu pensei ainda em escrever sobre coisa alguma, e ficar só enrolando, jogando conversa fora.
Acho que eu vou fazer um pouco de tudo.
Minha solução para este tipo de dilema sempre foi tentar conciliar tudo. Historicamente falando, por exemplo, quando duas correntes ou teorias assumiam posturas divergentes, minha postura sempre foi conciliá-las e dar um jeito de fazer com que houvesse um caminho que fosse a união entre ambas.
Complicado?
Eu acho divertido.
Eu tenho este espírito conciliador, sabe.
Bem, eu não estou ESCREVENDO sobre o que eu prometi... ok...
Aqueles que me conhecem bem sabem que uma das minhas grandes taras é Titanic. Não só o filme, eu estou me referindo ao próprio navio, o malfadado. Eu sou absolutamente louco pelo Titanic. Bem, hoje, dia 14 de Abril, precisamente às 23:45, farão 98 anos desde que o Titanic se chocou com um iceberg no Atlântico Norte e afundou.
Eu não sei se vocês repararam, mas eu e o meu blog não estamos no mesmo fuso-horário. Então quando eu publicar isto provavelmente o marcador não vai colocar no dia 14 de Abril, mas acreditem em mim, eu estou escrevendo isto no dia 14 e são extamente 23:30, o que significa que faltam quinze minutos pro Titanic afundar.
Bem o que eu posso dizer sobre este assunto? Eu disse dizer? Perdão, ESCR.... ah vá pra puta que te pariu, professora *insira o nome da professora à qual eu me refiro aqui*!!!
Bem, enfim, eu poderia dizer muitas coisas, afinal eu sou uma enciclopédia ambulante sobre Titanic, mais até do que sou sobre Roma Antiga (será que alguém aqui já jogou o joguinho do Titanic? O Adventure out of Time? Ah esse jogo é ótimo, você anda pelos corredores e conveses do Titanic, em tamanho real! É simplesmente fantástico e perfeitamente reproduzido!). Mas então, o que eu pretendo é apenas satisfazer a mim mesmo prestando uma rápida homenagem ao meu navio dos sonhos.
É impossível falar sobre o Titanic sem se referir ao contexto ao qual ele pertenceu. O Titanic é de uma era que já não existe mais, ele é coisa do passado, de uma sociedade que já se transformou muito.
Pra lá de 1912 a aviação ainda não existia em escala comercial, portanto absolutamente TUDO que você desejasse transportar a longa distância só poderia ir de duas formas: de trem ou de navio. Se você quisesse mandar algo da Europa para a América obviamente você não o faria de trem. Esta foi a era de ouro dos grandes Transatlânticos, que acabou com a popularização dos transportes aéreos, a partir dos anos 50 e só vimos ressurgir recentemente, nos anos 90 e 2000 com o boom das viagens de cruzeiro e a revitalização da frota transatlântica da centenária companhia inglesa Cunard, dona de transatlânticos como o Queen Mary 2 e o Queen Elizabeth 2.
Mas a grande diferença entre os transatlânticos e cruzeiros de hoje para os daquela época é que hoje o transporte de passageiros em navios é utilizado quase que exclusivamente como uma forma de lazer (excluindo, é claro, as grandes barcas, como as do Mar Báltico). Naquela épica, em fins do século XIX e inícios do XX o transatlântico era a única opção de transporte intercontinental existente (a menos que você quisesse dividir espaço com ratos no porão de um cargueiro). Os navios eram então um meio de transporte como os aviões são hoje. Eles não eram utilizados para passeios turísticos.
Porém, da mesma forma que existem assentos de primeira classe no aviões de hoje em dia, naquela época os passageiros ricos exigiam luxo e conforto para suas viagens.
Ora, imagine só, aquela cadeira apertada e desconfortável de classe econômica. Todo bem! Se você for para a Europa ou os EUA você só vai ficar ali naquele desconforto por umas oito a dez horas, onze no máximo. Imagine ficar assim por cinco dias ou UMA SEMANA.
Era este o tempo que levava uma viagem transatlântica, de Southampton, na Inglaterra, até Nova York, por exemplo.
As companhias transatlânticas competiam entre si não só para ver quem fazia o navio mais rápido e cruzava o Atlântico em menos tempo como também para ver quem fazia isto tudo em mais alto estilo. O navio mais rápido merecia a honra de ganhar a Fita Azul (Blue Ribbon), um prêmio que seria análogo ao reconhecimento de um navio como o mais rápido do mundo pelo Guinness Book.
Os navios da companhia britânica Cunard eram praticamente all concur no quesito velocidade e nenhuma outra companhia conseguia superá-los: na prática os navios da Cunard concorriam entre si pela a Fita Azul. Embora uma ou outra vez um navio de outra companhia conseguisse a façanha de superar um navio da Cunard, isto não era comum, e logo depois a Cunard pegava o recorde de volta pra ela.
A companhia que construiu o Titanic, a White Star Line, não agüentava mais ser a segunda da lista. A White Star bolou então uma estratégia ambiciosa: venceria a Cunard pelo luxo. A idéia era: o que os navios da Cunard têm de rápidos os da White Star vão ter em luxo e ostentação absolutos. E isto significava dar o máximo de conforto possível até mesmo para as classes inferiores. A terceira classe dos navios da White Star era a mais confortável e disputada dos oceanos e a segunda classe destes navios tinha os mesmos padrões de luxo das primeiras classes das outras companhias. Então você tem que imaginar como seria a primeira classe!
Não precisa imaginar. Eu tenho certeza que você viu o filme Titanic do James Cameron. A reconstituição do filme do Titanic é PERFEITA. Para você ter uma idéia, eles contrataram as mesmas empresas de carpintaria e decoração que fizeram os móveis do Titanic de verdade e usaram as plantas e os projetos de decoração originais do navio: lustres de cristal, escadarias de carvalho fino com revestimentos de folhas de ouro, uma cúpula de vidro e cristal que fornecia luz natural para a escadaria, elevadores (raríssimos na época), academia de ginástica e quadras de esporte (isso é banal nos navios de hoje, mas na época era super-exótico!), banhos turcos e piscina, dois restaurantes de luxo e três cafés em estilo parisiense, camarotes com lareira, sala de estar, suite, mordomo particular, uma biblioteca completa com salão de leitura, enfim, tudo que a nobreza britânica e o altíssimo empresariado americano podiam pagar.
Foi justamente com o Titanic que a White Star concretizou seu devaneio. Na verdade com o irmão dele, mais velho, o Olympic. O Titanic foi um navio produzido em série: três modelos foram construídos ao mesmo tempo, é o que chamamos de navios gêmeos, eles eram, em ordem de construção: o Olympic, o Titanic e o Britannic.
Sim, os navios da White Star sempre terminavam com “ic”. Sempre.
Como vocês viram, o Titanic era o irmão do meio.
A série Olympic, como ficou conhecido este trio, era uma série que era a vanguarda tecnológica em alguns sentidos, mas era antiquada em outros. Ela era vanguarda no sentido de ter sido pioneira no uso de telégrafo para comunicação entre outras embarcações e com a terra e também, o que chamou mais atenção na época, foram os primeiros navios a disponibilizarem este serviço telegráfico ao uso dos passageiros. A série Olympic também foi a primeira a colocar piscinas a bordo de um navio e foi pioneira no sistema de segurança de compartimentos estanques (que no entanto, como sabemos, se mostraram inúteis com o Titanic). Aqueles eram navios considerados tão modernos em segurança e comunicação que foram chamados de inafundáveis.
Mas eles foram antiquados num quesito muito importante. Seu sistema de propulsão e máquinas utilizava um modelo ultrapassado de maquinaria a vapor. Se o Olympic conseguiu a façanha de roubar a Fita Azul da Cunard, já na geração seguinte de navios ele estava completamente obsoleto. Os navios sobreviventes da classe, o Olympic e o Britannic, logo se tornaram elefantes brancos obsoletos, principalmente depois que os sistemas de caldeiras dos navios começaram a ser substituídos de vapor para o diesel.
O Britannic não enfrentou o estigma de casco de aço obsoleto por muito tempo: já na Primeira Guerra Mundial ele foi torpedeado e afundado por um submarino alemão no Mar Mediterrâneo, enquanto servia como navio hospital. O Olympic, no entanto, teve um fim bem menos glorioso e trágico que seus irmãos: já em 1935, ele era tão obsoleto e redundante que foi vendido pro ferro-velho e desmontado. Foi uma vida relativamente curta para um transatlântico.
Mas curta mesma foi a vida do Titanic. Ele durou alguns dias, tendo afundado na sua viagem inaugural. A tragédia do Titanic foi agravada pelo fato de ter havido uma greve de carvoeiros bem na época que o Titanic estava com sua primeira viagem marcada. O Titanic era o único navio totalmente abastecido, ele teve a sorte (ou o azar) de ter conseguido carvão antes da greve, então enquanto todos os navios estavam parados ele estava pronto para partir. O resultado: dezenas de pessoas com viagens marcadas para outros navios tiveram suas passagens remarcadas para o Titanic. “Que sorte!” disseram eles quando viram que fariam suas viagens na data certa; “FFFFFFFFFFFFF!” disseram quando viram uma parede de gelo vindo em sua direção... e olha que o Titanic teve a sorte de não estar lotado, mesmo com essa história da greve.
Bem, o resto da História vocês conhecem, todo mundo conhece, e se você é da época do filme, com eu sou, vai se lembrar da nostalgia que era Titanic e de como todo mundo só falava naquilo. Botes salva-vidas insuficientes, água gelada, enfim, mais de 1500 pessoas morreram e só 700 sobreviveram. Os mortos eram quase todos da terceira e segunda classes e da tripulação.
E bem, com certeza eu posto mais coisa sobre Titanic qualquer dia. Tipo aquela discussão interminável de “quem teve a culpa? O capitão? O cara que mandou aumentar a velocidade? Os caras que não ouviram o alerta de gelo? Blá blá blá”. Só para terminar então, vocês querem saber como terminou a White Star Line?
Bem, ela não exatamente terminou. Ela foi comprada depois de ter muito prejú. Advinha quem comprou a White Star? Isso mesmo, a Cunard. Então se hoje você quiser embarcar num navio da mesma empresa que construiu o Titanic é só reservar uma passagem no Queen Mary 2.
Me chama, viu?
Até mais e se você não viu o filme saiba que o Jack morre no final.
Tchauzinho!

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