sábado, 28 de agosto de 2010

Opa! Você por aqui?!

Oi gente! Ninguém mais deve frequentar esse blog depois de tanto tempo sem postagens...
Pois é, a minha vida anda de pernas pro ar!
No entanto, eu tive algumas idéias para um novo ciclo de postagens, e pretendo realiza-lo em breve.
Se alguém aí ainda estiver ligado, espere só mais um pouquinho que eu coloco algo novo no blog.
Bem, por enquanto é só!
Até breve!

domingo, 23 de maio de 2010

Coisas que nem todo mundo sabe sobre Paris - Parte 2

Boa tarde a todos! (ou noite, ou dia, dependendo da hora que você estiver lendo...)
Desculpem por não poder ter postado ontem, mas eu não me encontrava sóbrio o suficiente para fazê-lo (pelamordedeus né, sábado de tarde/noite vocês realmente esperam que eu fique sentado em casa pra publicar alguma coisa??).
Enfim. Como prometido, eu lhes trago hoje um pouco mais de informações sobre a Cidade Luz. Algumas últimas informações porque semana que vem eu já quero começar minha série de postagens sobre História da Inglaterra.
Semana passada eu lhes contei um pouco sobre a Paris Medieval. Desta vez eu quero avançar um pouco no tempo, mais precisamente dos séculos XVII e XVIII para os dias mais recentes.
No dia do meu aniversário eu quis realizar um grande sonho: conhecer o palácio de Versailles. Portanto neste gélido dia de maio eu peguei um trem no centro de Paris em direção à estação final em Versailles, o que dá pouco mais de 40 minutos de viagem. Para quem não sabe o palácio ou chateau de Versailles foi construído no reinado de Louis XIV, o Rei Sol, e significou uma nova era para a monarquia francesa e as monarquias em geral na Europa. Louis XIV era chamado Rei Sol justamente por se considerar o centro do Universo e fonte de todo o poder e ficou famoso por ter dito a frase “O Estado sou Eu”. Para quem se lembra das aulas de História na escola, isto quer dizer que esta época foi o berço da Monarquia Absolutista, mas o que diabos isto significa?
A Monarquia Absolutista representou uma forma de governo muito diferente da medieval, embora em teoria ela mantivesse as mesmas estruturas sociais e hierarquias entre os nobres e membros da Igreja. A grande novidade foram as mudanças nos papéis do rei e dos demais nobres, bem como a divisão da sociedade em três grandes camadas, ou “estados”, como uma pirâmide social (é aquela baboseira da escola: primeiro estado – que é o clero – segundo estado – a nobreza – e terceiro estado – que é a burguesia e os camponeses). O que mudou foi o seguinte: na Idade Média o rei era considerado o mais alto em importância entre os nobres e ser nobre na Idade Média significava ser guerreiro e ter capacidade de financiar guerras. Portanto o rei medieval era como um grande e supremo general das tropas, que liderava todos os outros nobres na guerra. A sociedade era de tipo feudal, isto significava que cada nobre tinha suas propriedades ou feudos, como pequenos países, muitos com costumes e algumas leis específicas. O rei também tinha suas terras, mas reunia muitos outros nobres através dos laços de vassalagem, que eram juras de fidelidade: um nobre jurava fidelidade a um rei, se tornando seu vassalo, aa vantagens disso poderiam ser muitas, de financeiras a estratégicas (belicamente falando) e então este conjunto de senhores feudais que juravam fidelidade ou se identificavam a um mesmo rei foram formando os reinos, como a França.
Nos séculos XVII e XVIII esta estrutura já não funcionava mais tão bem. A guerra tinha mudado muito e o grande responsável por isso foram as armas de fogo. A introdução dos canhões, mosquetes e rifles revolucionou a guerra, inicialmente aos poucos, a partir do século XV e XVI, mas no XVII os exércitos passaram a se equipar maciçamente com armas de fogo. Os castelos se tornaram redundantes, porque eles já não conseguiam mais cumprir suas funções defensivas: de nada adiantavam fortes muralhas contra poderosos canhões. O risco de um nobre importante ou um rei morrer numa batalha de armas de fogo aumentou drasticamente e com o passar do tempo estes reis e nobres foram se retirando dos campos de batalha e passando os encargos de liderança de tropas para terceiros. Nesta época era comum o rei ir ao campo de batalha inspecionar suas tropas, mas já não era tão comum vê-lo lutar corpo a corpo com o inimigo como se fazia na Idade Média. O rei e os nobres foram se retirando para a esfera administrativa da sociedade, deixando o comando das tropas para pessoas especializadas, ou seja, generais: foi o ressurgimento dos exércitos profissionais, pois na Idade Média os reinos não possuíam exércitos fixos, estes eram convocados apenas quando havia guerra. A partir do século XVII o que acontece é que volta a aparecer uma carreira militar, como na Roma Antiga, com exércitos fixos, mobilizados durante todo o ano, como nós temos hoje em dia. Os cargos de liderança já não pertenciam mais a nobres, mas a pessoas que ascendiam na carreira militar, profissionalmente.
Nesta época as guerras passaram a acontecer mais em campos de batalha quem em volta das fortalezas, ou castelos (os famosos cercos medievais), não havia mais necessidade de se construir residências senhoriais super-fortificadas e então os castelos medievais frios, apertados e de pedra foram se transformando em palácios arejados e super-luxuosos com exuberantes jardins.
A estrutura de poder medieval baseada nos senhores guerreiros se tornou redundante, irrelevante e na prática o que aconteceu foi que o rei agregou poderes, por se tornar comandante supremo dos exércitos (ele era comandante apesar de não participar ativamente das batalhas, isto é, ele dava as ordens aos seus generais). O rei agregou tantos poderes em suas mãos ao ponto de chegar a dizer que ele era a própria personificação do reino (O Estado sou Eu!): isto significava que a sociedade passou a se organizar no que se chama “corte”, isto é, o rei e seu enorme séqüito de nobres, cavaleiros e criados. As cortes eram sediadas em grandes palácios, afinal estamos falando de milhares de pessoas (só em Versailles moravam mais de 3.000 pessoas!). Todos queriam estar perto do rei, porque estar perto do rei significava estar perto de possíveis benesses, como promoções, títulos e concessões de terras que o rei costumava distribuir entre aqueles que ele achava que lhe serviam melhor, portanto nesta época poucos nobres habitavam nos seus antigos feudos, nas suas terras natais, eles preferiam habitar na corte, perto do rei.
Bem, chega de falar sobre absolutismo! Isto é muito chato! O legal é saber: afinal, como vivia esta tal corte real?
Bem, Versailles é um lugar curioso, é um palácio enorme, com dezenas de quartos e.... NENHUM banheiro. Não havia banheiros em Versailles. As pessoas não tinham o costume de tomar banho (dizem que Louis XIV não chegou a tomar três banhos na vida inteira!) e as necessidades eram feitas em penicos e despejadas pelos criados – muitas vezes pela janela!
Outra coisa interessante também é que não há muitos corredores em Versailles, os salões e os quartos se abrem uns para os outros, desta forma se você quer ir de um lugar a outro do palácio você pode ter que vir a atravessar o quarto de várias pessoas! O quarto do rei é um destes: havia uma sala chamada sala de concentração, era o local onde as pessoas da corte se aglomeravam de manhã cedo para ter o privilégio de espiarem pela porta que dava para o quarto ao lado – o quarto do rei – e ver o rei acordar. Ver o rei acordar de manhã era uma das maiores honras que um nobre podia desfrutar em Versailles! Uma vez que sua majestade tivesse despertado, as pessoas atravessavam a porta, atravessavam o quarto do rei e seguiam para a outra sala ao lado, onde assistiam o rei tomar seu café da manhã. Após isso eles iam para uma outra sala ao lado, a sala do conselho, onde aqueles que tivessem o privilegio de ser conselheiros do rei se reuniam para discutir os assuntos de governo.
Não muito longe dali ficava o quarto da rainha – não, o rei e a rainha NÃO dormiam juntos! – a rainha tinha uma passagem secreta pela qual ela poderia ir rapidamente ao quarto do rei, ou vice-versa. Quando o rei estivesse afim, ele poderia visitar a rainha e exercer seus direitos conjugais, mas ele muito raramente dormiria com ela: após desfrutar de sua adorável esposa ele lhe dava um beijinho e voltava para o seu próprio quarto.
Como você poder ver, a vida em Versailles poderia ser muito sufocante se você fosse um rei, por isso os reis e rainhas construíram pequenos palácios secundários em torno de Versailles, como o Grand Trianon e o Petit Trianon, que eram refúgios onde só o rei, a rainha e seus amigos mais próximos tinham o direito de ir. Quando suas majestades estivessem cansadas do sufoco de Versailles eles iam passar alguns dias repousando num destes pequenos e aconchegantes palácios secundários, além dos jardins de Versailles.
Uma coisa que perguntam muito também é porque Versailles tem jardins tão grandes: é só para mostrar poder e deslumbrar os visitantes? Bem, não SÓ por isso, mas também porque aqueles jardins enormes realmente tinham alguma utilidade: o rei e os nobres caçavam por lá, a caça era um esporte muito tradicional para a nobreza. Os jardins também produziam muitas coisas para o palácio, como flores, frutas, leite, vinho... e eram também o local onde os reis guardavam e exibiam seus presentes mais preciosos: animais exóticos oferecidos pelos reis estrangeiros, animais como girafas, macacos, elefantes, leões, tigres, enfim, um verdadeiro zoológico real.
Enfim é um passeio que vale a pena, mas que você não precisa ir até a Europa para sentir o “gostinho” desta tal vida na corte. Uma dica cultural que eu lhes dou agora e extremamente patriótica também (contribuindo um pouco além do nacionalismo de copa de mundo que estamos vendo aflorar nesta época): nós temos um belíssimo palácio de corte a poucos quilômetros de nós, em Petrópolis, o Museu Imperial, que não deixa nada a dever aos museus europeus em capricho na conservação e na disposição das peças no sentido de se preservar o “clima” da época. Não é ufanismo, quem me conhece sabe que eu não sou lá muito nacionalista, mas eu me emocionei muito mais com a visita ao Museu Imperial de Petrópolis do que com a visita ao palácio de Versailles, acho que é a sensação de ver a nossa história e de ter o prazer de ver que nós somos capazes (as vezes) de preservar muito bem o nosso patrimônio, pois o museu de Petrópolis é um exemplo raro no Brasil de capricho e seriedade para com o patrimônio. Você vai ver lá tudo que você pode imaginar ver em Versailles, só que em menor escala, é o que eu tenho sempre dito desde que eu voltei da Europa: Petrópolis é uma Versailles em miniatura, e é mesmo, mas a nível de conservação e preservação, não está nem um pouco atrás.
Por enquanto é só isso. Mais tarde eu termino de contar sobre Paris e já semana que vem vou tentar começar a postar sobre Inglaterra.
Au revoir, pessoal!

domingo, 16 de maio de 2010

Coisas que nem todo mundo sabe sobre Paris - Parte 1

Oi, meus caros (três) leitores.
Espero que tenham gostado do vídeo que eu publiquei esta semana.
Hoje eu gostaria de compartilhar com vocês um pouco da experiência histórica que eu tive na minha rápida visita a Paris.
Bem, eu gostaria de fugir um pouco das coisas clássicas e muito conhecidas, ou daquelas coisas que você pode adquirir facilmente numa visita à wikipedia. Eu quero tocar em alguns detalhes um pouco menos conhecidos de Paris. Pelo menos eu espero que vocês não os conheçam!
Eu decidi que eu iria a Paris e ficaria hospedado no coração da cidade, isto é, bem no centro histórico, no local onde há mais de 2000 anos atrás tudo começou. Este lugar é um bairro pitoresco com ares de cidade de interior chamado Le Quartier Latin, isto é, o Bairro Latino. Ele não é chamado Bairro Latino porque lá se vende tacos e burritos, ou porque se toca macarena, tango ou salsa. O nome Bairro Latino faz alusão à língua latina da Roma Antiga, pois foi naquele local que os romanos construíram a primeira Paris no século I a.C.. A Paris romana se chamava Lutetia, ou Lutécia, e compreendia toda a região do atual Quartier Latin e a Îlle de la Cité, uma ilhazinha fluvial no rio Sena, junto ao Quartier Latin. Não era uma cidade muito grande a princípio, mas foi crescendo em importância e população ao longo do Império Romano, mas ao contrário do que muitos pensam, Lutécia não era capital da província romana da Gália, até porque não havia uma província da Gália, havia três! (como disse César, “Gallia est omnis divisa em partes tres”). Lutécia ficava na província chamada Gallia Lugdunensis, cuja capital era a cidade de Lugdunum, ou Lugduno, atual Lyon. Foi apenas no início da Idade Média, após o fim do Império Romano, que Paris se tornou, pela primeira vez, capital de algo, no caso o reino dos Francos. Foi no ano de 508 que isto aconteceu e o responsável foi um rei franco chamado Clóvis. Clóvis é considerado o primeiro rei da França, muito embora o nome “França” ainda não existisse naquela época. Eu não sei bem porque, mas eu acho muito engraçado dizer que o primeiro rei da França foi Clóvis. Sempre rio depois de falar isso. Mas deixa pra lá. O que você precisa saber de importante sobre Clóvis, é que ele NÃO é o Clóvis Bornay e que ele foi o primeiro rei cristão da França.
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Bem, não teria como não ter sido, não é? Afinal, ele foi o primeiro rei...
Mas geralmente lembram mais o fato dele ter sido um rei cristão que ter sido o primeiro rei da França, isto porque esta época, o século VI, era uma época em que o cristianismo ainda não havia se consolidado perfeitamente enquanto religião dominante da Europa e havia bárbaros vindo de tudo que é canto, invadindo a região que até pouco tempo havia sido o Império Romano, e nem todos estes bárbaros conheciam o cristianismo. Clóvis era um destes. Sim. Pasme, Clóvis era um bárbaro, um grande guerreiro bárbaro, rei da tribo dos francos, que era considerada um tribo bárbara. Clóvis se tornou rei com apenas 15 anos, mas já era um ser temível! Ele liderou os exércitos dos francos e conquistou toda a região das Gálias, que hoje é a França. Tanto é que a Gália com o passar do tempo passou a se chamar França. Francos – França, é meio óbvia a relação, não é?
Então, depois de fazer suas barbaridades e subjugar a “França”, Clóvis resolveu se fazer de bonzinho, foi fazer uma visita ao Papa (ou melhor, ele mandou chamar o Papa – a força – porquê se o Papa não vem a Clóvis, Clóvis manda um bando de seus guerreiros brutamontes e arrasta o véio até ele!) e se converteu ao cristianismo diante de Sua Santidade, numa das mais famosas cerimônias de Batismo da História.
Assim é muito fácil, não acha? Você faz todas as merdas, mata, queima, pilha e rouba, agride o Papa e então, depois que você já tiver tudo que você quer e não precisar mais cometer nenhum tipo de atrocidade, você diz que encontrou Jesus, se converte, é batizado e tem TODOS os seus pecados perdoados!
Você entendeu agora porque todos estes reis bárbaros que invadiram a Europa se converteram ao cristianismo? Ah, rapaz! Sagacidade!
Infelizmente pouca coisa restou da Paris desta época. Dentre estas poucas coisas estão umas pequenas ruínas romanas que ficavam na esquina da rua onde eu me hospedei. Sim, meu hotel ficava a cerca de uns 50 metros de distância de alguns dos últimos vestígios da Paris romana e alto-medieval. Estas ruínas eram um complexo de termas (casas de banho) que foram convertidos em igreja no início da Idade Média (mesma lógica, viu?). Hoje em dia lá funciona um simpático museu da Idade Média chamado Museu de Cluny, onde estão uma série de relíquias de monumentos, como estátuas originais da fachada da catedral de Notre Dame (se você já foi a Paris e se deslumbrou com a fachada esculpida de Notre Dame, esta é a hora em que eu destruo seus sonhos: é tudo fake. As estátuas originais estão no museu de Cluny para ficarem preservadas! Ainda assim, a Notre Dame é um lugar deslumbrante, para um Igreja dita “Gótica”). Mas uma das coisas mais interessantes que eu vi neste museu foram alguns objetos cotidianos medievais, como um livro que era um manual de luta com espadas e justa (aqueles torneios de cavaleiros, com lanças), que ensinava golpes passo a passo com ilustrações (poucos sabiam ler, mesmo entre os nobres), e uma coleção de tabuleiros de jogos, que incluía (ACREDITE!) xadrez/damas, gamão e resta um! Eu confesso que não sabia que já existia gamão e resta um na Idade Média!
Se você está em Paris e quer desvendar um pouco mais da era medieval, sem ficar na mesmice que todo mundo conhece das igrejas preservadas, como Notre Dame (embora você deva ir, porque é muito linda esta catedral!) e outras igrejas Góticas, vale a pena também visitar as catacumbas arqueológicas. Opa! O nome já soa bem legal, não é mesmo? Este é um típico turismo underground, com todos os trocadilhos, por favor. Para ter um gostinho destas catacumbas faça o seguinte: vá à Îlle de la Cité, na praça em frente à Catedral de Notre Dame. A direita de uma multidão de japoneses desesperados tirando foto você vai ver uma estátua verde gigante de um homem montado a cavalo. Não é um homem qualquer, é um rei, ou melhor, um imperador medieval, chamado Carlos Magno. Não vá até esta estátua, não é lá que ficam as catacumbas. Eu só falei dela porque é de um cara importante e talvez você queira tirar umas fotos dela. Então, voltando à multidão de turistas japoneses desesperados tirando foto, vire na direção oposta, à esquerda, no início da praça. Quer dizer que enquanto todo mundo estiver desesperado se acotovelando para entrar ou tirar uma foto da catedral, você vai poder ir tranqüilamente na direção oposta e até tirar uma onda e se fazer de besta, blasé, com o monumento gótico (em Paris isto não impressiona muito, no entanto. É normal ser besta e blasé...). Você vai ver uma escada praticamente sem turistas, com provavelmente um casal distraído, subindo as escadas decepcionado porque desceu e viu que não eram ali os banheiros. Ali em baixo não tem banheiros, tem uma catacumba arqueológica. Desça, pague 2 euros (menos de 6 reais) e entre, você vai ver uma infinidade de ruínas que se extendem por debaixo de toda a praça e até pó baixo da Catedral. Ali é uma confusão absoluta de eras. Você vai ver edifícios romanos em baixo de medievais, em baixo de renascentistas, tudo em baixo de uma galeria abandonada de esgoto do século XIX, todo fundido um no outro sem que você consiga perceber direito onde termina um e começa outro. Algumas plaquinhas eletrônicas vão te ajudar, você identifica na placa o que você quer ver nas ruínas, um armazém romano, por exemplo, então você vai apertar um botão na placa onde está escrito “armazém romano” e luzes vão iluminar o sítio arqueológico no local onde ficava o armazém. Você vai ver maquetes também, reconstituindo algumas das construções irreconhecíveis em ruínas. No final das catacumbas você vai ver as fundações da igreja medieval de Santa Genoveva, que foi demolida no fim do século XI e início do XII para a construção da catedral de Notre Dame. Sacanagem, né? Pobre da santa Genoveva, podiam pelo menos colocar uma imagem dela na Notre Dame...
Mais alguns vestígios da Paris Medieval podem ser vistos no Louvre, nos subterrâneos do museu, bem longe de onde as multidões se acotovelam para tentar tirar uma foto da Mona Lisa e da Vênus de Milo. Nestes subterrâneos você vai ter um encontro com o Castelo Medieval do Louvre, que foi residência de muitos dos reis franceses, inclusive de Francisco, ou François I, até que, mais ou menos na época deste rei, todo o castelo foi demolido para a construção de um palácio em estilo renascentista, que é o Louvre atual. O que você vai ver do castelo medieval são apenas fundações do baluarte (que é a torre principal) e das muralhas internas e uma maquete de como o complexo teria se parecido no auge de sua existência.
Puxa! Eu já escrevi tanta coisa e nem saí da Idade Média!
No próximo post eu vou lhes contar onde você pode encontrar algumas das personalidades da história intelectual e política franceça, tais como Russeau, Victor Hugo e Voltaire. Você vai saber também como que TODAS estas maravilhas da arte e da História mundial que podem ser admiradas hoje em Paris e seus monumentos belíssimos quase viraram poeira nas mãos dos nazistas.
Bem, até a próxima!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A Vinda da Família Real para o Brasil

ATENÇÃO!!! NÃO LEIA ESTE POST ANTES DE LER O ANTERIOR, INTITULADO "O RETORNO DE ALEX". GRATO.

Oi, leitores, como prometido eis o vídeo. Este vídeo foi feito pelos amigos do meu irmão: Danilo, Renan, Yago, Raphael Coelho, Mateus, Fernando e Rafael Vinicius.
Segundo eu fiquei sabendo isto foi entregue à professora como um trabalho em grupo valendo nota. Bem, eu não sei que nota este grupo ganhou, só sei que eles foram bastante ousados para a quadradice e ortodoxia das aulas de História escolares. No entanto, se eu fosse o professor deles eu certamente daria um dez pela audácia e criatividade, e ainda guardaria uns pontos extras para eles usarem no bimestre seguinte!
Divirtam-se!

O retorno de Alex (ou "postagem com um título nada original")

Oi, meus caros (três) leitores, como vão vocês?
Eu vou... bem melhor. Eu acho.
Eu estava estressado e deprimido, então resolvi tirar férias de tudo. TUDO, literalmente.
Nestas últimas duas semanas eu dei um belo foda-se para o mundo numa louca e inusitada viagem relâmpago à Europa. Aproveitando o intervalo perfeito entre as erupções vulcânicas na Islândia e sem garantia de voltar caso aquele vulcão infeliz resolvesse explodir de novo (o que ele fez, exatamente um dia antes de eu embarcar de volta!), eu fiz as malas num dia e embarquei no dia seguinte para Paris. Na semana seguinte eu deixei a cidade luz sem muito remorso a fim de embarcar para a minha cidade natal (faz de conta que é, tá?), Londres.
E óbvio que uma viagem destas inspira qualquer historiador, mesmo que seja um historiador de araque e herético, como eu. Inspira outras coisas também, mas vamos nos focar na História.
Ao longo das próximas semanas eu pretendo explorar um pouco da História de alguns dos lugares que eu visitei, mas esta publicação extraordinária que eu faço hoje é apenas um aviso de que o blog estará retomando suas atividades a partir deste sábado. Antes de fazer isto, no entanto, eu publicarei um vídeo rápido para prestigiar um pouco da nossa História nacional, uma vez que praticamente a totalidade dos meus posts são de História geral...
Espero que vocês se divirtam. Até sábado!

ps: vocês notaram que a maior parte dos posts deste blog são "posts extraordinários"? Acho que vou mudar o nome da categoria para "posts normais" ¬¬

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Volto logo.

Boa tarde.
Tenho uma boa e uma má notícia.
A boa é que eu entreguei a minha monografia para a minha orientadora fazer a primeira correção e pelo que ela olhou rapidamente na entrega, as reações foram bastante positivas!
A notícia ruim é que em praticamente todos os outros setores a minha vida está uma zona ou está tudo dando muito errado.
Por este motivo eu estou suspendendo temporariamente as atividades neste blog até a segunda semana de maio, istó é, até depois do meu aniversário.
Por favor, todos vocês (três) que acompanharam as postagens deste blog até agora não o abandonem!!! Eu voltarei, não se preocupem!!! Apenas preciso tirar umas férias.
Obrigado e até breve!


P.S.: Hoje é uma data histórica, perceberam? Não sabem qual é? Que vergonha heim! Procurem no Google!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

98 anos do Naufrágio do Titanic, uma semana do Naufrágio do Rio

Oi, como vai você?
Pois é, eu não morri no apocalipse aquático do Rio de Janeiro. Eu não postei sábado passado por ser relapso mesmo.
Mas na verdade foi pelo contrário, imagine ter que escrever uma monografia em História e um blog de História AO MESMO TEMPO. Não dá muito certo às vezes. Eu ia acabar confundindo as coisas e escrevendo em linguagem não ortodoxa na minha monografia e em linguagem acadêmica aqui. O resultado disto seria ser reprovado e ainda perder todos os meus (três) leitores! Houve outros contratempos também. A casa estava cheia. De GENTE, não de água, pelamordedeus! Então eu não tive como me concentrar direito.
Isso não significa que eu esteja concentrado agora! Eu não estou. Como vocês podem perceber eu estou jogando conversa fora, como muitos professores nas faculdades fazem quando não estão com vontade de dar aula.
Mas vamos ver, o que eu posso falar hoje?
Ou melhor, escrever!
Isso me lembrou uma professora da faculdade. Ela fazia um escândalo quando os alunos escreviam “falar” na prova, ela os humilhava publicamente, afinal, não se fala numa prova, num livro, num papel, ela EXIGIA que você escrevesse “escrever”, por exemplo, você escrevendo na prova, citando um autor:
“Então fulaninho disse/falou que blábláblá” = humilhação pública na frente da classe.
“Então fulaninho escreveu/dissertou que blábláblá” = a professora não vai te humilhar.
Essa é uma das frescuras do mundo acadêmico. Se vocês um dia fizerem redação para concurso fiquem atentos a este detalhe!
Mas onde eu estava mesmo?
Ah é! Um assunto.
Bem, eu pensei em falar, perdão, perdão, perdão!!!! ESCREVER, um pouco sobre a história dos grandes transatlânticos, mas então depois eu pensei em escrever sobre naufrágios, e depois eu pensei ainda em escrever sobre coisa alguma, e ficar só enrolando, jogando conversa fora.
Acho que eu vou fazer um pouco de tudo.
Minha solução para este tipo de dilema sempre foi tentar conciliar tudo. Historicamente falando, por exemplo, quando duas correntes ou teorias assumiam posturas divergentes, minha postura sempre foi conciliá-las e dar um jeito de fazer com que houvesse um caminho que fosse a união entre ambas.
Complicado?
Eu acho divertido.
Eu tenho este espírito conciliador, sabe.
Bem, eu não estou ESCREVENDO sobre o que eu prometi... ok...
Aqueles que me conhecem bem sabem que uma das minhas grandes taras é Titanic. Não só o filme, eu estou me referindo ao próprio navio, o malfadado. Eu sou absolutamente louco pelo Titanic. Bem, hoje, dia 14 de Abril, precisamente às 23:45, farão 98 anos desde que o Titanic se chocou com um iceberg no Atlântico Norte e afundou.
Eu não sei se vocês repararam, mas eu e o meu blog não estamos no mesmo fuso-horário. Então quando eu publicar isto provavelmente o marcador não vai colocar no dia 14 de Abril, mas acreditem em mim, eu estou escrevendo isto no dia 14 e são extamente 23:30, o que significa que faltam quinze minutos pro Titanic afundar.
Bem o que eu posso dizer sobre este assunto? Eu disse dizer? Perdão, ESCR.... ah vá pra puta que te pariu, professora *insira o nome da professora à qual eu me refiro aqui*!!!
Bem, enfim, eu poderia dizer muitas coisas, afinal eu sou uma enciclopédia ambulante sobre Titanic, mais até do que sou sobre Roma Antiga (será que alguém aqui já jogou o joguinho do Titanic? O Adventure out of Time? Ah esse jogo é ótimo, você anda pelos corredores e conveses do Titanic, em tamanho real! É simplesmente fantástico e perfeitamente reproduzido!). Mas então, o que eu pretendo é apenas satisfazer a mim mesmo prestando uma rápida homenagem ao meu navio dos sonhos.
É impossível falar sobre o Titanic sem se referir ao contexto ao qual ele pertenceu. O Titanic é de uma era que já não existe mais, ele é coisa do passado, de uma sociedade que já se transformou muito.
Pra lá de 1912 a aviação ainda não existia em escala comercial, portanto absolutamente TUDO que você desejasse transportar a longa distância só poderia ir de duas formas: de trem ou de navio. Se você quisesse mandar algo da Europa para a América obviamente você não o faria de trem. Esta foi a era de ouro dos grandes Transatlânticos, que acabou com a popularização dos transportes aéreos, a partir dos anos 50 e só vimos ressurgir recentemente, nos anos 90 e 2000 com o boom das viagens de cruzeiro e a revitalização da frota transatlântica da centenária companhia inglesa Cunard, dona de transatlânticos como o Queen Mary 2 e o Queen Elizabeth 2.
Mas a grande diferença entre os transatlânticos e cruzeiros de hoje para os daquela época é que hoje o transporte de passageiros em navios é utilizado quase que exclusivamente como uma forma de lazer (excluindo, é claro, as grandes barcas, como as do Mar Báltico). Naquela épica, em fins do século XIX e inícios do XX o transatlântico era a única opção de transporte intercontinental existente (a menos que você quisesse dividir espaço com ratos no porão de um cargueiro). Os navios eram então um meio de transporte como os aviões são hoje. Eles não eram utilizados para passeios turísticos.
Porém, da mesma forma que existem assentos de primeira classe no aviões de hoje em dia, naquela época os passageiros ricos exigiam luxo e conforto para suas viagens.
Ora, imagine só, aquela cadeira apertada e desconfortável de classe econômica. Todo bem! Se você for para a Europa ou os EUA você só vai ficar ali naquele desconforto por umas oito a dez horas, onze no máximo. Imagine ficar assim por cinco dias ou UMA SEMANA.
Era este o tempo que levava uma viagem transatlântica, de Southampton, na Inglaterra, até Nova York, por exemplo.
As companhias transatlânticas competiam entre si não só para ver quem fazia o navio mais rápido e cruzava o Atlântico em menos tempo como também para ver quem fazia isto tudo em mais alto estilo. O navio mais rápido merecia a honra de ganhar a Fita Azul (Blue Ribbon), um prêmio que seria análogo ao reconhecimento de um navio como o mais rápido do mundo pelo Guinness Book.
Os navios da companhia britânica Cunard eram praticamente all concur no quesito velocidade e nenhuma outra companhia conseguia superá-los: na prática os navios da Cunard concorriam entre si pela a Fita Azul. Embora uma ou outra vez um navio de outra companhia conseguisse a façanha de superar um navio da Cunard, isto não era comum, e logo depois a Cunard pegava o recorde de volta pra ela.
A companhia que construiu o Titanic, a White Star Line, não agüentava mais ser a segunda da lista. A White Star bolou então uma estratégia ambiciosa: venceria a Cunard pelo luxo. A idéia era: o que os navios da Cunard têm de rápidos os da White Star vão ter em luxo e ostentação absolutos. E isto significava dar o máximo de conforto possível até mesmo para as classes inferiores. A terceira classe dos navios da White Star era a mais confortável e disputada dos oceanos e a segunda classe destes navios tinha os mesmos padrões de luxo das primeiras classes das outras companhias. Então você tem que imaginar como seria a primeira classe!
Não precisa imaginar. Eu tenho certeza que você viu o filme Titanic do James Cameron. A reconstituição do filme do Titanic é PERFEITA. Para você ter uma idéia, eles contrataram as mesmas empresas de carpintaria e decoração que fizeram os móveis do Titanic de verdade e usaram as plantas e os projetos de decoração originais do navio: lustres de cristal, escadarias de carvalho fino com revestimentos de folhas de ouro, uma cúpula de vidro e cristal que fornecia luz natural para a escadaria, elevadores (raríssimos na época), academia de ginástica e quadras de esporte (isso é banal nos navios de hoje, mas na época era super-exótico!), banhos turcos e piscina, dois restaurantes de luxo e três cafés em estilo parisiense, camarotes com lareira, sala de estar, suite, mordomo particular, uma biblioteca completa com salão de leitura, enfim, tudo que a nobreza britânica e o altíssimo empresariado americano podiam pagar.
Foi justamente com o Titanic que a White Star concretizou seu devaneio. Na verdade com o irmão dele, mais velho, o Olympic. O Titanic foi um navio produzido em série: três modelos foram construídos ao mesmo tempo, é o que chamamos de navios gêmeos, eles eram, em ordem de construção: o Olympic, o Titanic e o Britannic.
Sim, os navios da White Star sempre terminavam com “ic”. Sempre.
Como vocês viram, o Titanic era o irmão do meio.
A série Olympic, como ficou conhecido este trio, era uma série que era a vanguarda tecnológica em alguns sentidos, mas era antiquada em outros. Ela era vanguarda no sentido de ter sido pioneira no uso de telégrafo para comunicação entre outras embarcações e com a terra e também, o que chamou mais atenção na época, foram os primeiros navios a disponibilizarem este serviço telegráfico ao uso dos passageiros. A série Olympic também foi a primeira a colocar piscinas a bordo de um navio e foi pioneira no sistema de segurança de compartimentos estanques (que no entanto, como sabemos, se mostraram inúteis com o Titanic). Aqueles eram navios considerados tão modernos em segurança e comunicação que foram chamados de inafundáveis.
Mas eles foram antiquados num quesito muito importante. Seu sistema de propulsão e máquinas utilizava um modelo ultrapassado de maquinaria a vapor. Se o Olympic conseguiu a façanha de roubar a Fita Azul da Cunard, já na geração seguinte de navios ele estava completamente obsoleto. Os navios sobreviventes da classe, o Olympic e o Britannic, logo se tornaram elefantes brancos obsoletos, principalmente depois que os sistemas de caldeiras dos navios começaram a ser substituídos de vapor para o diesel.
O Britannic não enfrentou o estigma de casco de aço obsoleto por muito tempo: já na Primeira Guerra Mundial ele foi torpedeado e afundado por um submarino alemão no Mar Mediterrâneo, enquanto servia como navio hospital. O Olympic, no entanto, teve um fim bem menos glorioso e trágico que seus irmãos: já em 1935, ele era tão obsoleto e redundante que foi vendido pro ferro-velho e desmontado. Foi uma vida relativamente curta para um transatlântico.
Mas curta mesma foi a vida do Titanic. Ele durou alguns dias, tendo afundado na sua viagem inaugural. A tragédia do Titanic foi agravada pelo fato de ter havido uma greve de carvoeiros bem na época que o Titanic estava com sua primeira viagem marcada. O Titanic era o único navio totalmente abastecido, ele teve a sorte (ou o azar) de ter conseguido carvão antes da greve, então enquanto todos os navios estavam parados ele estava pronto para partir. O resultado: dezenas de pessoas com viagens marcadas para outros navios tiveram suas passagens remarcadas para o Titanic. “Que sorte!” disseram eles quando viram que fariam suas viagens na data certa; “FFFFFFFFFFFFF!” disseram quando viram uma parede de gelo vindo em sua direção... e olha que o Titanic teve a sorte de não estar lotado, mesmo com essa história da greve.
Bem, o resto da História vocês conhecem, todo mundo conhece, e se você é da época do filme, com eu sou, vai se lembrar da nostalgia que era Titanic e de como todo mundo só falava naquilo. Botes salva-vidas insuficientes, água gelada, enfim, mais de 1500 pessoas morreram e só 700 sobreviveram. Os mortos eram quase todos da terceira e segunda classes e da tripulação.
E bem, com certeza eu posto mais coisa sobre Titanic qualquer dia. Tipo aquela discussão interminável de “quem teve a culpa? O capitão? O cara que mandou aumentar a velocidade? Os caras que não ouviram o alerta de gelo? Blá blá blá”. Só para terminar então, vocês querem saber como terminou a White Star Line?
Bem, ela não exatamente terminou. Ela foi comprada depois de ter muito prejú. Advinha quem comprou a White Star? Isso mesmo, a Cunard. Então se hoje você quiser embarcar num navio da mesma empresa que construiu o Titanic é só reservar uma passagem no Queen Mary 2.
Me chama, viu?
Até mais e se você não viu o filme saiba que o Jack morre no final.
Tchauzinho!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Este Blog não é meu!

Oi, caros (3) leitores!
Tenho tido dias muito difíceis... vamos logo com isso!
Está meio difícil postar hoje, sabe como é né? Meio de feriado, família em casa... e além disto amanha é a minha colação (simbólica), e minha monografia não tem progredido como eu esperava. Enfim, está tudo meio Tenso.
Bem, ontem foi dia 1º de Abril, por isto resolvi escrever um pouco sobre mentiras.
Não, eu não vou contar mentiras. Pelo menos não de propósito... Eu pretendo falar um pouco sobre mentiras na História e dar alguns exemplos de mentiras sensacionais, que mudaram o curso da História.
Uma boa parte da História é política. Se você leu o meu último post vai se lembrar da escola dos anais e de como ela detestava a História políticas. Mas é inevitável. Apesar dos aspectos culturais, das tradições, da tecnologia e de tudo o mais, a História ainda é muito guiada por políticas e decisões políticas. E o que isto significa? Bem, significa mentira, é óbvio!
Existe uma coisa que não mudou na política desde que ela surgiu, no tempos antigos, até os dias de hoje, e esta coisa é a mentira e a manipulação. Aliás, a mentira é instrumento fundamental da manipulação. E todos os governos, dos piores aos melhores, foram e são obrigados a usar de mentiras e segredos.
Algumas mentiras, é claro, são maiores que outras. Eu não estou interessado em pequenas mentirinhas políticas, mas sim nas GRANDES mentiras da História da Humanidade. Seria muito difícil fazer uma lista das dez maiores mentiras da História, até porque muitas das mentiras podem nunca ter sido descobertas até hoje, porque na Hsitória, meu amigo, a mentira não necessariamente tem perna curta! As mentiras da História são reproduzidas, espalhadas e as vezes impostas, elas são homeopaticamente inseridas na sociedade de tal forma que, a longo prazo, algumas delas acabam se tornando verdades científicas.
Bem, eis uma rápida lista de algumas GRANDES mentiras históricas, em diversos períodos do nosso tempo:

Mentira #1: “E Moisés?”
Esta mentira tem a ver com o livro bíblico do Êxodo. Ela é a seguinte mentira: “Os hebreus foram escravos no Egito na época da XVIII e XIX dinastia”.
Bem, é claro que isto virou verdade científica: as pessoas só ouvem um lado da história: o da Bíblia!
Os egípcios não eram uma sociedade escravista. A escravidão só se ampliou no Egito no período helenístico, isto é, a partir do século IV a.C., quase mil anos depois da época em que teria vivido Moisés.
Não existe qualquer vestígio ou registro egípcio sobre a presença de escravos hebreus nos séculos XIII e XII a.C. Muito menos existe vestígios de que grandes catástrofes assolaram o Egito na época de Ramsés II, muito pelo contrário, o reinado de Ramsés II é conhecido por ter sido o mais próspero da História egípcia, o auge daquela civilização. É complicado que as evidências arqueológicas e Históricas apontem para a prosperidade deste reinado e a Bíblia afirme que pragas e catástrofes foram impostas sobre o Egito nesta mesma época.
Além disto, a principal forma de trabalho no Egito era o campesinato livre e a servidão. Havia um sistema de trabalhos compulsórios semelhante à corvéia medieval: no Egito antigo não havia dinheiro, não havia moeda, a economia era baseada na troca de produtos, ou escambo, e os impostos eram pagos em trabalho: trabalho nas terras do Faraó ou na construção de monumentos numa determinada época do ano (geralmente durante as cheias do Nilo). Foi assim que os templos e as pirâmides foram construídas: por trabalhadores livres, que pagavam seus impostos com trabalho numa época do ano nas terras do faraó ou na construção de um templo ou tumba e então depois disto retornavam para suas casas para cuidar de suas colheitas pessoais. Os trabalhadores ganhavam trigo, cevada e roupas para fazer estes trabalhos e tinham uma série de direitos, como o de folga por motivos de doença ou do parto da mulher. Algumas pessoas (idiotas) vem que eles só ganhavam comia e roupa e dizem, anacronicamente, que se tratava de escravidão. Além de anacrônico, isto demonstra uma total falta de conhecimento sobre as sociedades antigas, principalmente uma sociedade como o Egito, onde trabalhar para o Faraó era considerado uma honra.
No Egito daquela época também não havia o principio de nacionalidade. Se você estava em território egípcio, você era servo do faraó. Pronto!
O que deve ter acontecido é que os hebreus, que eram então um povo nômade, entrou no Egito como pastores de ovelhas e se instalaram em algumas terras. Ora, é claro que o faraó exigiu que eles participassem dos trabalhos que TODOS os egípcios faziam. Para um egípcio comum, aquilo era uma obrigação, um dever e uma honra. Para um estrangeiro como os hebreus, era escravidão. Ora, meu amigo, no Egito, faça como os egípcios. Mas não foi o que os hebreus fizeram e a versão deles da história, difamando os egípcios, se tornou vencedora.

Mentira #2: “Hello mr. Pagan! Merry fucking Christmas!”
A nossa segunda mentira vem com a marca registrada da Igreja tardo-antiga e medieval, a atual Igreja Católica. Antes que eu ofenda qualquer possível leitor católico, é bom lembrar que a Igreja daquela época não tem absolutamente nada a ver com a Igreja Católica atual. Suas políticas e doutrinas eram muito diferentes. Mas muitas coisas também permaneceram. E algumas destas coisas eram mentiras deslavadas, e os próprios católicos sabem disso, mas não se importam, afinal não ofende ninguém. Pelo menos não hoje em dia. Este combo de mentiras começou no Concílio de Nicéia, no século VI, uma das primeiras grandes reuniões realizadas para estruturas a Igreja e suas doutrinas, dogmas e festividades. Na verdade o que o Concílio de Nicéia fez foi bolar mentiras muito bem feitas para sufocar o paganismo. Eles não estavam exatamente preocupados com Jesus e os evangelhos, na verdade eles estavam preocupados com o que era perigoso para a Igreja nas Escrituras sagradas e decidiram o que deveria e o que não deveria estar na Bíblia. Todas as coisas que eles acharam que não eram interessantes para a política da Igreja foram deixadas de lado e escondidas. Hoje em dia essas cenas excluídas da Bíblia são conhecidas como escrituras ou evangelhos apócrifos, dentre estas escrituras as mais famosas são os evangelhos de Maria Madalena, Pedro e Judas e os pergaminhos do Mar Morto.
Mas a mentira mais interessante destas reuniões estruturadoras da Igreja foram os feriados, o Natal, por exemplo. Eu adoro Natal. Mas o Natal é uma das maiores mentiras da História. Na Roma Antiga, as ultimas semanas de Dezembro faziam parte de um ciclo de festivais super-populares em homenagem aos deuses Saturno, Mitra e Sol Invictus. Havia outras festas em homenagem a outros deuses também. As pessoas costumavam chamar o ciclo de Saturnálias. Era uma época de festa, quando as pessoas ceavam e trocavam presentes. Bem, mesmo depois que o Império Romano se converteu ao cristianismo as pessoas continuaram realizando estas festas em homenagem a deuses pagãos, porque elas eram REALMENTE muito divertidas. Acabar com aquilo seria como acabar com o carnaval carioca. Ora, a decisão da Igreja foi simples, o feriado do Natal foi imposto sobre as festividades pagãs, portanto as pessoas poderiam continuar festejando, porém não mais em homenagem aos deuses, mas sim em homenagem ao aniversario de Jesus. E quando é o aniversario de Jesus de verdade? Sei lá! Foda-se! Eles não estavam preocupados com isso! Eles estavam preocupados em erradicar o paganismo e todos os seus traços e a maneira mais eficiente disto era transformando os ritos e feriados pagãos mais fortes em ritos e feriados cristãos.
Ninguém sabe ao certo quando Jesus nasceu, não sabem nem o ano direito! A maioria dos historiadores de Jesus Histórico acha que foi em março, em algum ano entre 7 a.C e 7d.C. Mas não existe nada muito concreto a respeito...
Mas então, hoje é 25 de dezembro? Não é aniversário de Jesus, mas faz de conta que é e esquece esse tal de Saturno e Mitra... Foi assim que o Natal foi parar nesta época do ano.

Vamos avançar mais para perto da nossa época:

Mentira #3: “Campos de concentrraçon? Eu não saberrr de nenhuma campo concentrraçon?”
Esta é uma mentira muito perigosa! Faz parte de uma corrente pseudo-científica e pseudo-histórica chamada “Revisionismo”. Em resumo o “Revisionismo” prega que o Holocausto (o massacre de 6 milhões de judeus na II Guerra Mundial) nunca aconteceu e que ele foi uma invenção, uma teoria da conspiração, elaborada pelo sionismo internacional, ou seja, os judeus.
Discutir com esta gente é como discutir com ativista comunista da zona sul: você pode mostrar foto de campo de concentração, foto e vídeo de valas comuns com milhares de corpos, fornos de incineração de cadáveres, não importa! Eles não vão acreditar em você! Estes neo-nazis de merda tem o anti-semitismo deles acima de qualquer coisa e qualquer evidência que você apresentar para eles de que os nazistas realmente mataram uma porrada de judeus vai ser considerada uma conspiração, um truque sujo.
Esta mentira não é uma simples tendência de um grupinho isolado. Governos como o do Irã seguem a linhagem revisionista. Eles querem que a mentira deles se torne cientifica para o mundo todo, exatamente como o regime nazista conseguiu fazer na Alemanha, onde, por incrível que pareça, pouquíssima gente daquela época admite que tinha algum conhecimento sobre o que acontecia nos campos de concentração. É...Eles provavelmente achavam que eram colônias de férias...

Mentira #4: “Pearl Harbor sucks!”
Esta é uma das minhas teorias da conspiração favoritas: “O ataque japonês a Pearl Harbor foi planejado pelo próprio governo americano”.
Não tem pra ninguém! O governo dos Estados Unidos da América é o campeão mundial das teorias da conspiração, das mentiras e dos “top secrets” da vida. E eu estou dizendo isto sem ser comunista viu!
Segundo esta teoria, o ataque a Pearl Harbor foi uma grande armação. Os EUA estavam loucos para entrar na guerra, mas não tinham nenhuma desculpa para fazer isso. Um dia, toda a frota americana do Pacífico se reuniu em Pearl Harbor, no Havaí, sem nenhum motivo especial. A frota do Pacífico INTEIRA, no ÚNICO território americano ao alcance dos aviões e porta-aviões japoneses. Era uma tentação grande demais para os nossos amigos japinhas: ou era muita sorte deles ou uma grande estupidez dos americanos. Ou as duas coisas! Na verdade, é bem provável que Pearl Harbor tenha sido a maior e mais cruel isca da História da Humanidade! Depois que os japoneses atacaram, os americanos puderam declarar guerra a eles, e, como os japoneses tinham uma aliança com a Itália e a Alemanha, os EUA tiveram que declarar guerra a Hitler e Mussolini também. Puxa! Que chato!
Mas você vai me dizer que a teoria tem um furo: por que os americanos colocariam em risco todos os seus navios de guerra se eles queriam justamente entrar em guerra?
BEM... boa pergunta. O fato é que a frota do Pacífico estava fora de linha, eram navios antigos que já estavam sendo substituídos. Uma nova frota já estava sendo construída na costa oeste. Que coincidência, não?

Mentira #5: “We’re gonna kick your ass, and take your nukes, Saddam!”
Essa todos vocês conhecem: “Saddam Husseim tem armas de destruição em massa”. A maior cascata do século XXI so far...
O que o presidente Bush fez é típico de políticos que buscam desesperadamente por popularidade. Desde os tempos antigos, quando um político queria ascender na carreira ou ganhar popularidade de maneira rápida ele arranjava uma guerra. De preferência uma guerra grandiosa, mas fácil de vencer. Os romanos adoravam fazer isso, e todo mundo fez por séculos! O sr. Bush estava com o cu na mão por causa dos atentados de 11/09 e a queda vertiginosa de sua popularidade depois dos americanos terem invadido o Afeganistão sem conseguir capturar o titio Osama.
Mas o Bush não podia simplesmente entregar o parça dele, Osama. Ao invés disso ele resolveu jogar a culpa para um bode espiatório, um velho e caquético ditador islâmico chamado Saddam Husseim. A teoria é a seguinte: “eu vou invadir o Iraque e vai ser bem fácil porque aquele lugar é uma merda e eu sou a América. As pessoas vão me aclamar porque eu me livrei do novo inimigo numero um da América e eu vou recuperar a minha popularidade! E ainda vou conseguir petróleo, muito petróleo, nesta historia!”
O Bush inventou uma ameaça que não existia no Iraque e começou seu plano. Os americanos tem até um nome pra isso: eles dividem as guerras em dois tipos, as guerras populares, que são aquelas que mobilizam o país por uma causa nobre, e as guerras presidenciais, que são feitas para beneficiar a política pessoal de um presidente. O Iraque foi uma típica guerra presidencial. Só que o Bush quebrou a cara, porque , ao contrario do que ele tinha imaginado, os iraquianos não eram moleques... E neste caso, onde a mentira teve perna curta, todos acabaram descobrindo a grande farsa que eram as armas de destruição em massa do Iraque. No final das contas o que foi maciçamente destruído foi a popularidade do governo Bush...


Enfim, na História todo dia é primeiro de abril. O povo geralmente só se mobiliza se for através de uma mentira muito bem contada.
Como dizia um grande mentiroso:

“As massas sucumbirão mais facilmente a uma grande mentira que a uma pequena”

Quem descobrir o autor desta frase ganha um brinde!
Coloquem suas sugestões nos comentários.
A resposta do Arthur não vale!
Obrigado e feliz Páscoa. Se você ainda acreditar em feriados religiosos depois deste post!

sábado, 27 de março de 2010

quarta-feira, 24 de março de 2010

Pelas barbas do filósofo!

Hoje de manhã um amigo me ligou para fazer uma pergunta, pois um outro amigo dele estava insistindo com uma afirmação histórica e eles não conseguiam chegar a um consenso. Bem, eles ligaram pra mim (claro! Duh!), afinal era minha área de especialidade o tema que eles estavam discutindo, ou seja Roma Antiga. Por isso eu resolvi fazer este post extraordinário para poder responder à pergunta deles, sem precisar ficar gastando créditos de celular.
A afirmação polêmica era a seguinte:

“Os generais romanos mandavam raspar todo o cabelo dos seus soldados para que eles parecessem sem personalidade”.

Muito interessante. É uma teoria. E em História a gente trabalha com teorias, hipóteses e pesquisa. Isto é um exemplo perfeito de hipótese, agora então, a partir de pesquisa e método científico vamos tentar validar ou refutar a hipótese, isto é dizer se ela está CERTA ou ERRADA! (porque em academicês certo e errado são palavrões feios, tipo caralho, buceta, xoxota, escroto, merda.... você entendeu, né? Não são palavras que você fala a mesa com um historiador ortodoxo).
Como considerações iniciais eu posso dizer que, na qualidade de romanólogo com quase cinco anos de experiência (sem contar as coisas que eu lia por conta própria antes de entrar pra faculdade) eu achei uma afirmação muito esquisita. Na verdade ela não fez muito sentido pra mim, mas a gente sempre se surpreende né?!
No entanto, eu acredito que este meu amigo tenha confundido um pouco as coisas, mais especificamente as seguintes coisas: Roma com Grécia/Macedônia, cabelo com barba e medida com objetivo.

POOOHA ETNAO ELE COFUNDIO TDOOO!!!

É, foi meio que um eufemismo. Mas tudo bem, é supernormal confundir Grécia com Roma, foi-se o tempo em que eu daria um ataque histérico por causa disso! Mas a história que este rapaz ouviu é uma história muito famosa. Mas vamos começar do principio, para que eu possa tentar justificar porque eu acho que a afirmação não faz sentido.
Na Grécia Antiga a barba, mas não necessariamente o cabelo, era considerada símbolo de virilidade e sabedoria. Em Esparta por exemplo era comum punir um homem que fizesse alguma coisa vergonhosa cortando a barba dele! A barba era status, os gregos em geral acreditavam que a ausência de barba caracterizava feminilidade (talvez este seja um dos motivos porque eles eram tão pederastas! Uma das regras básicas da pederastia grega era que um homem só podia pegar um menininho até ele começar a ter barba).
No século IV a.C. Alexandre, O Grande (que não era eu, infelizmente), revolucionou a moda grega. O Xandi não era grego, na verdade ele era Macedônico, um reino primo das cidades gregas (NOTA IMPORTANTE: JAMAIS, SOB HIPÓTESE ALGUMA, DIGA PRUM GREGO QUE ELE É PRIMO DE UM MACEDONICO E NEM VICE-VERSA!!), mas naquela época a Grécia comia na mão dos macedônicos. A revolução fashion que ele instaurou foi a seguinte: ele ordenou que todos os seus soldados vivessem de barba perfeitamente feita e cabelo raspado.
Para perderem a personalidade? Bem, não. Porque as moedas da época mostram que mesmo os reis macedônicos faziam isso. A justificativa para tal medida era o medo que o Alê tinha do inimigo puxar seus soldados no campo de batalha pela barba ou pelo cabelo e decepar-lhes a cabeça. Como até então os gregos tinham uma puta cabeleira isto não seria tão difícil (quem assistiu Os Incríveis pode fazer uma associação do cabelo e da barba grega com a capa dos super-heróis).
Como o Alexandre era foda e seu império mais foda ainda (não, não mais foda ainda, ele era tão foda quanto, é, era...) a moda pegou rapidinho e logo em toda a Grécia e Macedônia os homens passaram a fazer a barba e deixar o cabelo curtinho, até Aristóteles fez isso, embora fosse costume dos filósofos deixar a barba bem grande. Na verdade os filósofos eram uns dos únicos homens da época que sustentaram a barba e o cabelo grandes, então pelo fato dos filósofos fazerem isto e Aristóteles, o maior filósofo da época, não fazer, que surgiu aquela famosa expressão: “a barba não faz o sábio”. (o engraçado é que apesar de eu ler isto em vários lugares eu sempre vejo imagens e estatuas de Aristóteles com barba... ele deve ter feito isto apenas por um tempo, se bem que a barba que ele usa nas imagens é sempre bem discreta, sem comparação com o barbão dos espartanos ou o barbão do Platão e do Sócrates).
Bem, e em Roma?
Em Roma, numa época bem remota, tipo antes do século II a.C. a moda ainda era barba grande (naquela época não tinha Internet, não tinha Rio Fashion Week, não tinha Gisele Bundchen, então as tendências demoravam para circular) No início Roma era bem pela-saco dos gregos, eles tinham praticamente a mesma cultura, os mesmos costumes, mas com o tempo os romanos foram adquirindo personalidade própria. No século II a.C. os romanos já tinham bastantes diferenças em relação aos gregos.
Um general romano chamado Scipião ouviu falar da técnica do Alexandre e resolveu testar contra Carthago (império arqui-inimigo de Roma na época). Deve ter dado certo, porque a moda de cabelo curto e barba feita acabou virando marca registrada dos homens romanos.
No século I a.C. isso já estava tão na alma da sociedade que a barba passou a ser considerada uma coisa suja para os romanos, não é a toa que eles associavam automaticamente a barba aos bárbaros celtas e germânicos, que gostavam de andar por aí com aquele barbão e uma cabeleira intimidadora!
Como os maiores inimigos dos romanos a partir do século I a.C. passaram a ser justamente estes bárbaros, nada mais natural que para se diferenciarem os romanos assumissem uma aparência totalmente contrária à deles! Ou seja: se os bárbaros tem barba e cabelo grande, o romano tem o rosto liso e cabelo curto, se o bárbaro bebe cerveja o romano bebe vinho, e por aí vai... Em História e Sociologia geralmente chamam isso de “Identidade” cultural, mas isso aí é um assunto que reeeende...
Enfim, os romanos não necessariamente raspavam a cabeça, mas certamente faziam a barba e mantinham o cabelo curto. Quanto ao motivo, não acredito que seja por causa de personalidade, mas mais por questão estratégica, cultural/higiênica (não esqueça que não existia xampu na época!!!) e para se diferenciarem dos gauleses e germânicos. Quer dizer que é justamente ao contrário: eles faziam isso para reforçarem sua personalidade como romanos!
Na cultura romana não faria muito sentido um general ou líder de qualquer tipo tomar uma medida que anulasse a personalidade de outro indivíduo ou que o apagasse. Roma era uma sociedade fundamentada no principio antigo de República, que pressupõe a igualdade e a liberdade dos cidadãos (romanos, é claro!) e uma dos principais pressupostos desta igualdade é o de que nenhum homem se submete a outro (claro que isto não significa que um soldado não tem que respeitar o general! Aí já é outra história!), mas no meio social civil o ideal é que os cidadãos se tratassem como iguais.
Beeem mais tarde, no século II e III d.C. um imperador romano chamado Adriano (que não é aquele marginal que joga futebol) lançou novamente a moda da barba em Roma. Ele um grande fã da cultura grega e gostava de filosofar, então pra ficar parecido com um filósofo ele deixou a barba crescer. Acabou pegando e apesar dos costumes romanos terem abominado a barba por tanto tempo, eles voltaram a usá-la, mas mais como símbolo de sabedoria e maturidade. Nesta época também já tinha muito gaulês e germânico vivendo e trabalhando em Roma e servindo no exército romano e os romanos acabaram se acostumando com barba e cabelo grande de novo.
Então eu espero ter esclarecido algumas coisas. Você vê que a afirmação não foi tirada do nada, realmente há muita coisa que pode ser dita sobre barba e cabelo na Antiguidade Clássica. Mas resumindo, em conclusão:


Os generais romanos mandavam raspar todo o cabelo dos seus soldados?

R: Eles o fizeram por um bom tempo, sim. Mas não necessariamente TODO o cabelo: a barba deveria ser toda feita, o cabelo deveria ser no máximo curto.


Eles faziam isto para que eles parecessem sem personalidade?

R: Duvido muito. Isto não condiz com a cultura romana. Havia motivos práticos para eles fazerem isto, os mesmos que o exército de Alexandre, o Grande, por exemplo, mas também como uma forma de Identidade cultural e o que eles acreditavam ser higiênico.


É isto por hoje! Tenham uma boa tarde!
Salve!

sábado, 20 de março de 2010

Que viva El Rey!

Boa noite, meus caros (três) leitores.
Eu estava realmente com muito pouca vontade de escrever hoje e estava pensando em dar alguma desculpa, não publicar nada e tentar compensar depois. Foi aí que eu me lembrei no nosso “pacto”, ou seja, a minha promessa de publicar pelo menos uma vez por semana e sempre aos sábados. Vocês gostaram desta palavra que eu usei? “Pacto”? Isso me lembrou instantaneamente de um assunto que eu gostaria de partilhar com vocês hoje, o que é ótimo porque eu estava realmente sem idéias para escrever!
Ao longo da minha estada na faculdade de História eu tive tudo que é tipo de professor: professores ótimos, professores medíocres e professores péssimos. E tinham também os professores-celebridade, que eram aqueles historiadores famosos cujas aulas ficavam com fila de espera no primeiro dia das inscrições.
Meu professor de História moderna era uma destas figuras. Um puta dum professor celebridade, para usar do nosso bom português! E não, eu não o estou insultando, pelo contrário! Me lembro perfeitamente da noite em que eu esperei o relógio virar meia noite na intranet da faculdade para eu poder ser o primeiro a me inscrever na disciplina!
Hoje eu pretendo, portanto, transmitir um pouco do que este grande mestre apresentou sobre uma temática deveras importante para a nossa história, inclusive: a formação dos reinos ibéricos. Isto quer dizer da Espanha e de Portugal.
Pretendo me focar mais na Espanha hoje, Portugal merece um tópico especial mais tarde.
Quando falamos em formação da Espanha devemos pensar num longo processo que vai desde a Idade Média (digamos, séculos XII a XIV) até o início do século XVI. E quando falamos “Espanha” estamos generalizando, é claro, pois uma coisa que poucos professores dão importância em suas aulas é dizer que não existia “Espanha” naquela época.

COMO ASSIM?? VC VAII FLAR DE UMA CIOSA Q NAUM EXSITEEE???

Claro que não, né! O que eu quero dizer é que a Espanha não existia da forma como nós imaginamos hoje, ou seja, como um país propriamente dito. Durante a Idade Média tudo aquilo que hoje nós chamamos de Espanha era na verdade vários reinos independentes. Os principais reinos no século XV eram:

Aragão
Castela
Catalunha
Valença
Navarra
Granada

Os cinco primeiros reinos tinham uma coisa em comum: eram reinos extremamente cristãos, ou como diziam na época “mui catholicos”. Por este motivo, obviamente, eles odiavam o último reino, Granada, que era muçulmano.

MUÇULMANOO?? TIPO BIN LADEN?? NA ESPANHA??

Oh, sim, meu caro, na Espanha! E não seja preconceituoso, muçulmano não é sinônimo de Bin Laden e terrorista. ... ... não sempre.
Não se esqueçam que ao longo dos séculos VIII e XII os árabes se expandiram por todo o sul do Mediterrânio, conquistando tudo que viam pela frente (é por isso que os países do norte da África hoje são muçulmanos). Quando os árabes chegaram no estreito de Gibraltar, no Marrocos, eles se perguntaram: “o que fazer agora?” Então alguém respondeu “Vamos construir uma grande ponte, com um pedágio e quatro pistas, transpor o estreito e invadir a península ibérica para converter os infiéis do outro lado também!” e gostaram muito da idéia dele. Porém quando viram que construir uma ponte seria impossível, mesmo com todo o poder de Alá do lado deles, eles acharam que seria melhor ir de barco mesmo. E assim os muçulmanos invadiram a península ibérica e conquistaram tudo!
Tudo?
Bem, quase tudo, pois um grupo de aldeias de irredutíveis ibéricos cristãos permaneceu inconquistado ao norte da península. Nos anos seguintes estes cristãos irredutíveis colocaram na cabeça que deveriam tomar a península ibérica toda de novo e expulsar os árabes dali, esta decisão ficou conhecida como “Reconquista” ou, como gostam os espanhóis “La Reconquista Cristana”.
Durante séculos a política central destes reinozinhos do norte da Ibéria foi reunir exércitos para o rei, convocar os nobres senhores feudais e ir pra guerra para combater os infiéis árabes. A guerra mobilizava as pessoas e servia de desculpa pra tudo!
O trigo subiu: é culpa dos muçulmanos! Nós precisamos de recurso pra guerra!
A seca destruiu nossas colheitas: Deus está puto porque tem muçulmanos nas nossas terras, vamos à guerra!
O rei cobra impostos demais: é pra sustentar os exércitos pra gente ir pra guerra!
E por aí vai.
As pessoas daquela época não eram que nem os americanos de hoje, que fazem protestos contra a guerra do Iraque e tentam peitar o governo. Eles realmente NÃO gostavam de muçulmanos. E a Santa Sé (o que hoje chamaríamos de Vaticano), que era como a ONU da época, ao invés de tentar impedir a guerra colocava lenha na fogueira dizendo que qualquer um que fosse pra Reconquista teria todos os seus pecados perdoados.
Assim qualquer um faz política! Você coloca a culpa de todos os problemas em cima do seu inimigo, o PAPA diz que matar seus inimigos é bom e que você vai ser salvo por isso e ainda por cima você fica incrivelmente rico pilhando as terras conquistadas! Ir para a Reconquista era muito bom! Você partia com quase nada e voltava rico e de alma lavada!
Apesar de ter sido difícil expulsar os muçulmanos, (porque os caras eram muito bons de briga! MESMO), quase setecentos anos depois do primeiro exército muçulmano ter derrotado um exército cristão na península Ibérica, a última cidade árabe lá foi tomada pelos cristãos. Esta cidade era Granada, e ela foi reconquistada em 1492.
Bem fim de problema, não?!
CLARO QUE NÃO! Aí é que começou a merda!
Os cristãos tomaram Granada, a Reconquista acabou! E agora? O que fazemos?
A reconquista era desculpa para tudo, as monarquias se baseavam em fazer aquela guerra, então um belo dia eles resolvem ganhar a guerra e eliminar o motivo de sua existência!
Foi tenso. A Espanha estava dividida em vários reinos diferentes, que não tinham mais nenhum objetivo em comum e não dava mais pra ficar explorando os camponeses porque eles não teriam mais desculpas para dar. Era preciso pensar numa nova forma de administrar aquele lugar.
Claro que enquanto alguns reis pensavam no que fazer, outros caíram na porrada entre si para tentarem se tornar mais poderosos. Acabou que os reinos espanhóis foram conquistando uns aos outros até que, na prática, só restaram dois reis na Espanha: Fernão de Aragão e Isabel de Castela. Por sorte um era homem e o outro era uma mulher, então ao invés de caírem na porrada eles pensaram: por que a gente não casa? Assim a gente cai na porrada só entre a gente e não precisa envolver mais ninguém nisso.
Eu não sei quem fez o pedido pra quem, mas no final o pedido foi aceito e Fernão e Isabel se casaram. Este evento foi conhecido como “União das Coroas Ibéricas”, porque como eu disse eles eram, na prática, os dois últimos reis da Espanha, e, ao se casarem, eles unificavam os seus reinos.

PQ ELE FICA FLANDO O TMEPO TODO “NA PRATICA”?

Ahhh! BOA pergunta! A Espanha não era um reino tão simples. Apesar dos reis terem se casado, os reinos nunca deixaram de existir. Todos aqueles que eu enumerei anteriormente continuaram a existir, tinha Castela, tinha Aragão, Navarra, etc. Os reinos permaneceram, o que aconteceu foi que eles tinham todos os mesmos reis! Não é tão difícil assim de imaginar: o Reino Unido tem só uma rainha, a Elizabeth II, e ela é rainha ao mesmo tempo da Inglaterra, da Escócia, do País de Gales e da Irlanda do Norte. É bem parecido aqui: Isabel era rainha de Castela e Fernão era rei de todos os outros reinos.

AHH ENTAUM O FERNAUM ERA MTO MAIS FODAUM QUE A ISABEL NEH?!

Ahhh... não, não era! Porque apesar de Fernão ter sido rei de uma porrada de reinos e Isabel só de um, o reino da Isabel era muito melhor que os do Fernão: Castela era tipo tão boa quanto todos os outros reinos juntos e tinha a mesma população que a de todos os outros reinos juntos também. Fernão foi é esperto, porque sabia que se resolvesse ir à guerra contra Isabel a coisa ia feder pro lado dele, então, ao se casar ele apenas estava fazendo sua cama. Foi um negócio e tanto!
Esta história de união de coroas e de reis governando vários reinos gerou uma série de discussões nerds, er, perdão, debates historiográficos entre diversos autores de hoje em dia. Um dos debates mais empolgantes (*bocejo*) desenvolveu os conceitos de “Monarquia Compósita” e “Monarquia Corporativa”. O que esta conclusão empolgante quer dizer? O seguinte: um rei espanhol assume o compromisso, um pacto, com o seu povo e com os seus nobres, ou melhor, com o povo e os nobres dos diversos reinos que ele governa. Por este pacto o rei é o supremo mediador dos conflitos, é o cara que resolve todas as diferenças entre os reinos: para impedir que os reinos da Espanha caiam na porrada que nem eles fizeram depois da Reconquista, o rei, na condição de soberano de todos eles ao mesmo tempo, assume o compromisso de ser justo com cada um dos reinos, se isto fosse no Brasil, por exemplo, o rei jamais pensaria em tirar os Royalties do petróleo do Rio de Janeiro, porque isso iria contra seu pacto com os diversos reinos que compõe o seu grande reinado que é Espanha.
Isto é monarquia compósita ou corporativa: compósita porque ela é formada por vários reinos e feudos e corporativa porque ela é embasada por um pacto de conciliação, cuja figura central é o rei. E foi assim que eles resolveram a crise existencial espanhola: sem poder sustentar tudo pela guerra, eles criaram um sistema político complicado de lavagem de roupa suja, onde o rei atuava como uma espécie de terapeuta de casais. No caso os casais brigões eram os nobres dos diferentes reinos.
Tudo isto faz com que o feudalismo seja bastante diferente na Espanha, tão diferente ao ponto de muitos historiadores dizerem que na Espanha sequer existiu feudalismo. No feudalismo tradicional existem muitos feudos que vivem brigando entre si, feudos autônomos, como vários paisezinhos. Na Espanha, um feudo não briga com o outro: eles procuram a autoridade do rei para se resolverem.
Este sistema de governo que lançava grande atenção em cima do rei, acabou dando a ele também poder quase que ilimitado, isto tornou a monarquia espanhola extremamente eficiente, e logo a Espanha se tornou uma superpotência européia e conseguiu condições práticas de se lançar ao mar e conquistar territórios na América. O auge desta eficiência aconteceu logo com o herdeiro de Fernão e Isabel. O belo casal real teve uma filha, chamada Joana. Esta filha, apesar de ser chamada de “a louca” na Espanha, não tinha nada de louca: ela puxou os pais e resolveu arranjar o melhor casamento possível. Ela se casou então com Filipe, Sacro Imperador Romano. O Sacro Império Romano Germânico era uma entidade política da época que representava as terras que hoje correspondem ao países baixos, a Alemanha, Áustria, Bélgica, Norte da Itália e mais dois continentes a sua escolha. Aproveitando a piada, ser Sacro Imperador seria como, se ao distribuíssem as cartas numa partida de WAR, você começasse já de cara com um continente completo!
Joana e Filipe tiveram um filho chamado Carlos que, logicamente, se tornou rei de TODOS os reinos espanhóis E Sacro Imperador Romano ao mesmo tempo: na Espanha ele era chamado de Carlos V, no Império, de Carlos I.
Carlos I conseguiu manter a Espanha em paz, sendo um exemplo perfeito de rei nesta tal de monarquia compósita, mas estava em guerra com praticamente todos os outros reinos: ele estava em guerra com a Inglaterra, com França, com os Árabes, com os Turcos e com qualquer um que fosse alguém na noite. Até contra os Astecas o cara esteve em guerra! Para vocês terem uma idéia, nem o Papa escapou da fúria que era Carlos I, quando o Papa resolveu interferir dizendo que Carlos havia conseguido poder demais, o rapaz mimado e super-poderoso marchou sobre Roma e deu uma coça nele. Ele ficou quietinho depois disso. Carlos I só perdeu em guerra para o outro super-monarca da época: o sultão turco Solimão, o Magnífico, mas isto não o impediu de continuar bullyando os outros reis da Europa. O mais interessante é que o Carlos já fazia essa porra toda aos 19 anos de idade!
Quando Carlos I morreu (sim, ele era mortal), seu filho Filipe II se tornou rei e Imperador. Como dizer isto de forma amena? Bem... Filipe II não era tão foda quanto o pai. Por incrível que pareça ele conseguiu jogar na lata de lixo quase tudo que Carlos havia feito, e isto começou a ficar sério principalmente depois que ele comprou briga com uma tal de Elizabeth, rainha da Inglaterra (a I, não a II, ela não é tão velhinha assim!). FATO: Filipe era Católico e Elizabeth protestante. Bem, os bisavós de Filipe, nossos velhos conhecidos Isabel e Fernão, não só haviam sido responsáveis por unificar as coroas mas também por uma medida muito famosa que nós conhecemos como A INQUISIÇÃO ESPANHOLA. Isto significa que desde o reinado de Isabel e Fernão, uma das principais pautas da agenda do rei espanhol deveria ser garantir que todos nos seus domínios fossem católicos, fiéis, que respeitassem os dogmas e aquela coisa toda. Quem não fosse ia pra fogueira! Se você fosse judeu ou muçulmano você era convidado a se converter ou a se retirar do reino, ou simplesmente morto, o que era mais fácil, dependia do humor do rei.
Claro que o mui catholico Filipe não podia deixar que uma rainha protestante herege governasse um país europeu bem debaixo do seu nariz, então ele resolveu torrar boa parte do dinheiro da Espanha para construir um exército e uma frota, a maior já vista, e conquistar a Inglaterra. Esta frota era tão assustadora e absurdamente grande, que foi conhecida como "A Icrível" ou "Invencível Armada".
Bem, quando a "Invencível Armada" de Filipe II estava prestes a desembarcar na Inglaterra, uma grande tempestade apareceu e destruiu TODOS os navios e junto com eles a fortuna do rei. Dizem que o que restou da armada ficou a dreiva por dias no Mar do Norte e que pedaços dos navios espanhóis foram encontrados ao longo de toda a costa da Escócia e da Irlanda do Norte. Depois disso a Espanha entrou em crise, quebrou e nunca mais se recuperou, não necessariamente nesta ordem. Moral da História: Deus, na época, não era católico.
Bem, esta foi nossa historinha de hoje. E se vocês pararem para refletir como a História ajuda a explicar muita coisa de hoje em dia, eis o motivo porque a Espanha, até hoje, é um país bastante heterogêneo e com uma porrada de dialetos diferentes: a política da Monarquia Compósita, que garantia a união do país e a separação entre os reinos ao mesmo tempo.

CURIOSIDADE FINAL: Fernão de Aragão e Isabel de Castela eram tão temdemsia na época que eles inspiraram as peças de xadrez “rei” e “rainha” e as cartas do baralho “rei” e “rainha”, quer dizer, é por isso que muitas vezes em espanhol e em português, não se chama a “dama” do xadrez e do baralho de “dama”, mas de rainha, como alusão ao mui pop casal real da época em que os jogos de xadrez e carta se popularizaram na Europa.

Então é isso!
Buenas noches!

sábado, 13 de março de 2010

Oi... ... ... você vem sempre aqui?

Oi, gente! Estou de volta, e como prometido vou fazer um post sobre... o que era mesmo? Ah é! SEXO!
Na verdade não é bem sobre sexo não, eu falei isso só pra chamar atenção de vocês. Mas tem a ver sim, indiretamente.
Antes disso deixa eu contar uma historinha. Eu ando muito ocupado e estressado com monografia e outros problemas (é, vocês sabem disso! Não vou me alongar no assunto, não se preocupem!) e ao mesmo tempo vinha me sentindo um tanto... ... ... solitário. (cof cof!) Bem, mas como eu não tenho tempo pra sair e como eu moro num lugar quase tão isolado quanto a Ilha de Lost, eu não tenho como procurar uma solução para isso de forma tradicional, isto é, saindo pra “night”, conhecendo pessoas por aí, etc.
Não tenho?
Espere aí, o que você considera “típico” ou “tradicional” para o século XXI??!! Foi o que me perguntou uma amiga minha esses dias e fez com que eu abrisse meus olhos para uma solução extremamente prática e cada vez mais comum no nosso tempo e quando eu me lancei a isto eu percebi a quantidade enorme de pessoas que faz a mesmíssima coisa! Eu estou me referindo a sites de namoro e relacionamentos.
Hoje em dia parece que está mais difícil arranjar um relacionamento, pelo menos para pessoas como eu que não são tão bem apresentáveis de acordo com os padrões estúpidos, perdão, estéticos vigentes e que preferem coisas sérias em detrimento a relacionamentos ocasionais, superficiais ou as vulgas “ficadas”. Por isto estes sites acabam sendo uma boa, pelo menos são divertidos e dá para conhecer muita gente sem precisar sair de casa, coisa que eu realmente não tenho podido fazer.
Bem, claro que, como eu sou extremamente nerd/geek, eu pensei: “kraaa eu preciso fazer uma análise histórico-casual deste processo!!!!”
É por isto que eu estou aqui!
Mas antes eu vou traduzir o que isto significa: significa que eu vou buscar apresentar alguns casos isolados dentro da história ocidental em longo prazo que mostrem diferentes formas de “cortejo” e “cantadas”, enfim, processos para se conseguir um relacionamento estável ou casamento. Este post vai ficar um pouco diferente do que eu tinha imaginado porque eu pretendia apresentar também o cortejo e casamento celta, mas eu não entendo muito bem do assunto e pedi ajuda a um amigo. Assim que ele me mandar material sobre o assunto (por que, assim como eu, ele é muito chegado nessas histórias de sacanagem! Tão chegado que fez disso a pesquisa central dele!) eu posto alguma coisa exclusiva a respeito!
Bem, fazendo um resumo deste resumo que eu fiz, o que eu pretendo é o seguinte: mostrar o quão difícil, ou fácil, seria para você conseguir uma namorada numa outra época específica! Eu vou supor que você, meu leitor, é do sexo masculino, isto porque, de forma geral ao longo da história e até hoje, são os homens que costumam tomar a iniciativa (é machismo meu falar isso, minhas possíveis leitoras? Bem, se é vocês podem me provar o contrário agora chegando em mim!!! XDDDD ... não? ... bem, então eu estou CERTO =D).
Vou pegar alguns casos, até porque eu não posso analisar todas as épocas e todas as sociedades. Vou pegar então alguns dos casos e sociedades mais interessantes, para não ficar muito longo. Lembre-se que o que eu vou apresentar são modelos ideais, não significa que TODO mundo se arranjava assim na época, assim como hoje em dia não é tudo mundo que se arranja na “night” ou na Internet!
Bem, vamos fazer isto cronologicamente:
A primeira sociedade que eu escolhi foi o Antigo Egito. Quão difícil seria para você conseguir uma namorada no Egito dos Faraós? Bem, eu tenho uma boa e uma má notícia para você! A boa é que não seria difícil at all, você provavelmente já nasceria casado!!! A má notícia é que esta namorada/esposa provavelmente seria sua IRMÃ ou sua PRIMA!

Leitor #1: EEEEEWWWWWWWW!!!
Leitor #2: Legal º¬º

É, é isso aí. A sociedade egípcia não possuía qualquer noção de incesto. Pelo contrário, eles acreditavam que as coisas deveriam ser feitas todas em família, portanto não tem pretendente melhor que a sua própria irmã ou sua priminha: pense bem, vocês já se conhecem, sempre se conheceram, têm intimidade desde pequenos!
Entre a realeza então isto era quase que obrigatório, pois era uma forma de manter o poder na família: o faraó que casa com sua própria irmã não vai ter uma família extra babando pelo poder e não vai misturar seu sangue divino com o sangue de plebeus (não se esqueça que o faraó era considerado um deus encarnado!). O próprio faraó Tutankhamon (o famoso Tut) muito provavelmente foi casado com sua irmã, Ankheseneamun (não, ela não era a namorada do Ihmotep!) e até Cleópatra foi casada com o seu irmão (por sinal, quando eles se casaram ela tinha 13 anos e ele 4!).
Os biólogos de plantão provavelmente ficarão horrorizados com esta prática, pois ela vai contra tudo que seria ideal, geneticamente falando: o incesto a longo prazo pode gerar sérios problemas de diversidade genética, tornando os filhos destas relações bem mais frágeis e susceptíveis a doenças e coisas do tipo. Bem eu não entendo nada de genética então não sei o que dizer sobre o assunto, mas acho que agora eu entendo porque os egípcios acreditavam em deuses com cara de bicho!

Avançando uns mil anos no tempo, lá pros séculos VI e V a.C., na Grécia, vamos ver uma forma de azaração bem mais interessante. A Grécia era dividida em milhares de pequenas cidades-estado independentes, então apesar de todas elas acreditarem nos mesmos deuses e falassem o mesmo idioma, algumas tinham costumes beeem diferentes entre si. Dentre as póleis gregas a que me chama mais atenção é provavelmente a que mais chama atenção de vocês também: SPAAAAAAAARTAAAAAAAAAAAAA!!!!!
Em Esparta você tinha que ser muito macho para conseguir uma garota! E as garotas tinham que ser tão paranóicas com suas aparências como as nossas modelos atuais são com as delas caso quisessem arranjar um garoto!
Na época do ano que os espartanos consideravam a melho para a procriação (antes que vocês perguntem, eu não sei qual é) havia uma grande cerimônia na cidade. Na verdade era mais um ritual mesmo. Começava assim e bem cedo: os homens da cidade toda se reuniam nas ruas e na Ágora (a praça principal da cidade), eles achavam lugares para assistir a uma parada que aconteceria nas ruas, os rapazes solteiros tinham prioridade para se instalar, porque eles precisariam ter as vistas mais privilegiadas: a parada era feita especialmente para eles!
E como era esta parada? Era o seguinte: as mulheres da cidade se reuniam todas num local especial para deixar as meninas solteiras bem bonitas para que elas desfilassem pelas ruas da cidade. Nuas.
Imagine só: em Esparta, um rapaz era tirado do conforto do seu lar aos 7 anos de idade e ficava mais de 10 anos na Agogé, o treinamento militar, no qual eles viviam fora da cidade, nos campos de treinamento, apenas entre eles. Aham. Isto significa o que você está pensando. Eles passavam a adolescência TODA sem ver a cara de uma mulher. Então um belo dia eles voltavam para a cidade e assistiam a um desfile de todas as jovens solteiras espartanas nuas e fazendo gracinhas pra eles.
O que acontecia depois? Bem, não seja tão apressadinho, seu pervertido! Não acontecia nada. As senhoritas voltavam para suas casas e o rapazes voltavam para fora da cidade.

AHHHH EH SOH ISSO???????

Não, não, não é só isso, seus tarados! Olha só o que acontecia depois: as meninas iam realmente para casa e os rapazes se reuniam fora da cidade. Durante o desfile eles deveriam escolher a garota que mais lhe agradara, então lá do lado de fora eles debatiam para dividir as garotas entre eles e se entendiam caso alguém tivesse escolhido a mesma (se entendiam = caiam na porrada). Uma vez tudo acertado, e cada espartanozinho pronto e cheio de testosterona, cada um com uma garota na cabeça, eles se preparavam para a guerra. A noite caía, as moças iam para suas camas tranqüilamente para ter seus sonos de beleza e os rapazes entravam em ação: eles pulavam os muros da cidade na surdina, se esgueiravam pelos becos e ruas (ninguém podia vê-los!!) e iam em direção às casas de suas pretendentes. Uma vez lá eles pulavam o muro, entravam pela janela dos quartos de suas garotas, as domavam, amordaçavam, amarravam e a seqüestravam! O rapaz então levava a moça pra fora da cidade e a possuíam no mato!

LEITORA: AAAI Q HORROR!!! Q COISA NOJENTA, MACHISTA ASQUEROZA!!!
LEITOR # 1: Q DESRRESPEITO E SELVAGERIA!!!
LEITOR # 2: TRUUUUUUUUUUE!!!
LEITOR # 3: *flap flap flap flap*

Pois é, eu não vou julgar o comportamento dos espartanos: em História isto não se faz, é uma questão de cultura! Mas o que acontecia era o seguinte: depois desta noite tórrida de BDSM os jovens estavam oficialmente casados. Não havia cerimônia de casamento nem nada disso, AQUELA era a cerimônia. E se você está pensando que isto era uma coisa horrível, que uma dama deve ser tratada com respeito, que seqüestro é abominável e que os estupradores deveriam ser castrados, bem, eu devo dizer que concordo com você. HOJE EM DIA. Porque em Esparta não era assim. Pelo contrário: uma garota que não fosse seqüestrada e possuída naquela noite provavelmente se sentiria a pior garota de Esparta! Porque isto significaria que nenhum rapaz a teria escolhido. Pense bem.
O seqüestro e o estupro eram um ritual, era uma fantasia, como um fetiche erótico. Mas para eles era um ritual extremamente importante! Significava que o garoto virava homem ao demonstrar sua virilidade e suas habilidades de escaramuça e significava que as meninas viravam mulheres, pois seus corpos já eram capazes de atrair a atenção de um rapaz.
É muito mais profundo do que parece!

LEITORA: EH MACHISTA E NOJENTO!!!

Tá bom, tá bom! ... ... ... Mas não é interessante?? Heim, heim??

Enfim... deixando Esparta de lado e avançando um pouco mais no tempo, vamos para a minha civilização favorita: Roma!
Os romanos tinham qualidades que muita gente consideraria defeito, mas que para mim são qualidades extraordinárias: frieza extrema e praticidade. São as mesmas qualidades que eu aprecio no povo que eu mais admiro hoje em dia: os Britânicos. Os romanos eram os britânicos da época e não os americanos, como todo mundo gosta de imaginar (não se esqueça que foi a Inglaterra e não os EUA que tiveram o maior Império da História!). Como você cortejaria uma garota ou arranjaria um casamento na Roma Antiga? Resposta: você não o faria. Isto absolutamente NÃO é da sua conta! Ora vejam só! Uma pessoa escolhendo com quem vai se casar? Que ABSURDO! Deixe que o seu pai faça isto para você!
Em Roma o casamento era um contrato. Muita gente diria que hoje também é, mas lá ERA um contrato. Um contrato como de duas empresas. Um negócio. Arranjar um casamento era falar de negócios. Os pais de família iam ao Fórum se encontrar, eles falavam sobre seus negócios, sobre seus comércios, sobre suas alianças políticas, sobre seus lotes de terra e decidiam com quem era melhor fechar um acordo. Uma vez decido eles chegavam um pro outro e falavam: “Ótimo fazer negócios com você! Porque não casamos nossos filhos para consolidar nossa ““““amizade”””””. E então eles organizavam um banquete, que era tipo um jantar de negócios e apresentavam seus filhos e diziam “Ò, cês vão casar viu” ao que eles respondiam “Ah é? Tudo bem. Me passa o sal?”. E os pombinhos casavam!

MASSS E AI??? E SE OS NEOGSIOS NAUM FOSEM BEM OU O CASAU NAUM SE SUPOTRACE???

Se os negócios não fossem bem e o casal não se suportasse era muito simples: divórcio.
Ah sim, os romanos conheciam muito bem o divórcio e não tinha problema nenhum. O casal se divorciava e os pais procuravam outros parceiros para fazer negócios! O Fórum é um lugar cheio de oportunidades! $$$
Da mesma forma que eles conheciam o divórcio eles conheciam todas as categorias de casamento que nós temos hoje: divisão total de bens, divisão parcial de bens e comunhão de bens! Tudo, absolutamente TUDO era um negócio a ser tratado, discutido e fechado! E se ele não interessasse mais, desfeito!
Ahh... bons tempos!
Claro que uns 500 anos depois TUDO mudou, com a Idade Média. E foi estabelecido um padrão que vigorou até bem recentemente. O cristianismo mudou muito o mundo e as noções de casamento dos antigos perderam completamente o sentido diante da nova forma ideal de relacionamento: casar-se virgem, diante de Deus e nunca mais se separar, porque o que Deus une o homem não separa.
Sim, apesar de os medievais nunca terem visto este tal de Deus eles achavam que Ele estava sempre presente e se cagavam de medo disso! Assim como muita gente se caga hoje ainda!
Então, assim como na Igreja Universal, tudo era pecado e tudo era o Demo, inclusive, ÓBVIAMENTE, o sexo. A Idade Média era mais ou menos assim: imagine que a única religião do seu país é a Igreja Universal ou a Igreja Internacional da Graça de Deus e que era LEI você seguir e freqüentar esta religião. Era isso.
Então as coisas funcionavam deste jeito: se um rapaz gostava de uma garota ele ia até o papai da menina e a pedia em casamento a ele! Exatamente como nas novelas de época da Globo. Se o papai aceitasse, eles se casavam e viviam felizes (ou não) para sempre, o que na Idade Média significava uns 20 anos ou menos.
Acho que é por isso que eles inventaram esta história de que você tem que casar e nunca se separar: pense bem, eles não precisavam se aturar muito tempo, só o suficiente até a peste negra descobrir o endereço deles.
Agora imagine que você é um rapaz medieval extremamente apaixonado por uma donzela e vai à casa de sua família, feliz e contente, pedir a mão desta donzela em casamento ao seu papai. Você chega lá e o papai da donzela lhe diz um belo NÃO, saca a espada e tenta te castrar! O que você faz? Bem, se o pai não quer isto quer dizer que está tudo acabado, não é? -___-
NÃO!
Não, meu pobre coração apaixonado! Nem tudo era trevas na Idade das Trevas! Você tem uma solução para o seu problema!

TEHNO???? EBAAA!!!!

Sim! Fugir!
Acho que de alguma forma os medievais herdaram este traço dos espartanos, como eu não sei! Mas se um casal se apaixonava e seus pais não concordavam com a união, tudo que eles precisavam fazer era combinarem de fugir. Eles então fugiam, procuravam um padre e se casavam. Uma vez casados eles precisavam consumar o casamento o mais rápido possível, porque se eles não o fizessem o casamento não era considerado válido.
Depois disto era só voltar para casa e ninguém poderia dizer nem fazer nada a respeito: eles eram marido e mulher diante de Deus, e Deus naquela época era Chuck Norris!
A primeira pessoa na Idade Média a desafiar Chuck Noris nessa história de casamento foi um rei chamado Henrique VIII, mas isto é outra história.

Vocês viram? Cada civilização tem uma forma diferente de lidar com l’amour. Pense bem, como diz o título desta postagem, "você vem sempre aqui?" já foi uma super-cantada nos anos 50/60! Imagine num passado remoto: qualquer coisa já pode ter dado certo!
Agora deixa eu ir porque eu acho que responderam minhas mensagens!!!

sexta-feira, 12 de março de 2010

INÚTIL! A GENTE SOMOS INÚTIL!

Oi, gente!
Não, ainda não é sábado, mas eu precisava escrever o que eu estou pensando agora. É mais um dos meus desabafos, mas acredito que vai ajudá-los a entender melhor o significado deste blog.
Eu estava tentando escrever um pouco da minha monografia hoje e resolvi pegar algumas monografias de colegas meus do laboratório de História Antiga e fiquei impressionado/revoltado/frustrado com uma desagradavel série de constatações.
A primeira constatação era a de que eles estavam anos luz à minha frente em nível de refinamento acadêmico, citando inúmeros autores e teóricos para dar embasamento aos seus conceitos e argumentos. A segunda constatação é quase tão desesperadora quanto a primeira: cada uma das monografias que eu peguei tinha pelo menos 2 capítulos (isto é em média de 10 a 20 páginas) completamente IGUAIS a tudo que eu já escrevi até agora para a minha, só que com palavras diferentes. ABSOLUTAMENTE a MESMA coisa! Eu vos pergunto pois qual a relevância de cada um destes trabalhos (e do meu inclusive)???? Por que perdemos tanto tempo fazendo algo tão inútil e cientificamente IRRELEVANTE? Além disso algo que ninguém fora daquela torre de marfim de acadêmicos vai ler!
Ahhh mas eu juro que vou me vingar disto tudo! Já estou dando o primeiro passo com este blog! Eu poderia estar fazendo tanta coisa legal, útil e interessante como programação, investimento em ações, programas sociais... mas estou perdendo meu tempo com inutilidades obrigatórias!
Vai ter volta, sr. mundinho acadêmico, vai ter volta!

É isto, por enquanto!
E fiquem ligados para o meu post de amanhã, vocês vão gostar. É sobre SEXO!!!
Até mais!!!

sábado, 6 de março de 2010

Adeus, Mundo Cruel!

Oi gente!
Pois é eu estava com um grande problema ontem à noite e hoje e o problema era justamente que o sábado estava chegando e o meu bom humor não estava voltando. Ora, como eu vou poder supri-los com História em linguagem acessível e bem humorada sem estar em condições para tal?
Eu não podia simplesmente deixar vocês, meus três leitores, sem uma postagem, até porque eu prometi fazê-lo todo sábado, então eu resolvi que postaria um assunto bem deprimente! Boa idéia, não?
Não?
Ah, que pena, vai ter que ser...

O assunto que eu trouxe hoje faz parte essencialmente da Sociologia, mas muito tem a ver também com a História (a propósito, tudo que tem que tem a ver com Sociologia tem a ver com História e vice versa, a História e a Sociologia devem, de forma ideal, andarem sempre de mãos dadas), portanto não é contradição eu postar alguma coisa sobre Sociologia de vez em quando.
Este assunto também tem muito a ver com psicologia, psiquiatria e com Antropologia Social em alguns casos: trata-se do suicídio.
O suicídio é uma prática extremamente antiga na civilização humana e os pensadores, dede Platão e Aristóteles, tentam explicar o que pode levar uma pessoa à cometer tal ato. Hoje em dia, para o alívio dos pesquisadores, nós já descobrimos perfeitamente a causa de pelo menos metade dos casos de suicídio: o movimento Emotional Hardcore, também conhecido como EMO. Mas os Emos não existiam até bem pouco tempo, por isso foi preciso que muitos pesquisadores se debruçassem sobre o assunto para tentar entender. Um dos mais importantes “recentemente” foi um famoso sociólogo chamado Émile Durkheim. Eu digo “recentemente” porque ele viveu no século XIX e início do XX, na chamada Belle Époque.
Para variar um pouco, Durkheim era um velhinho francês. Claro que ele nem sempre foi um velhinho, mas sempre foi francês. E como um bom francês daquele tempo ele se dedicou à boêmia e aos estudos. Eu poderia falar horas sobre a obra do monsieur Durkheim, mas eu gostaria de ir direto ao assunto que me interessa, o livro que ele publicou em 1897 e que será o principal foco do nosso post de hoje; o título deste livro era “O Suicídio” e ficou popularmente conhecido como “O Suicídio de Durkheim”, o que é realmente esquisito já que Durkheim não se matou (ele morreu por causa de um derrame com 59 anos, não era tão velhinho assim, mas todas as pessoas daquela época com mais de 40 eram velhinhas).
“O Suicídio” é um livro importante por ser uma das primeiras obras da Sociologia Empírica. TRADUÇÃO: O livro é importante porque foi um dos primeiros livros escritos que são considerados Sociologia séria, científica, e dessas que se ensina em faculdades e colégios. Quem decidiu isso: não sei.
O interessante é o seguinte, o nosso querido velhinho de hoje procura entender quais são os fatores que levam as pessoas a se matarem (excluindo a moda, que veio só depois da era Emo, posterior, portanto a Durkheim). Durkheim considerou como causas apenas fatores sociais, pois naquele tempo ainda não se tinha conhecimento sobre as doenças psicológicas e psiquiátricas (Freud ainda não era temdemsia), portanto, para Durkheim não existe tal coisa como doenças mentais que degradam a mente de uma pessoa levando-a a se matar: toda e qualquer causa de morte por suicídio é derivada de um fator social extremamente complexo.

TCELA SAP, POR FVAVOR!!!

Sim, sim, veja só, o Durkheim achava que a pessoa só se mata se ela não está se enquadrando bem no seu meio social ou se ela está se enquadrando bem demais. Ué, como assim? Perguntará você, vejamos.
O Durkheim faz uma seleção e percebeu que havia pelo menos três tipos diferentes de suicídio. Ei-los:

O Suicídio Egoísta: trata-se de quando a pessoa em questão perde a maior parte dos laços que a prendem à sociedade. É um fulano que praticamente não tem amigos, perdeu (ou nunca teve) a garota (ou o garoto), não se dá bem com a família e não se sente útil de forma alguma à sociedade. Diante de tanta mizerabilidade, ele pensa: ninguém vai sentir minha falta e zás! Acaba com tudo. (acho que o Durkheim encaixaria aqui aqueles malucos que saem atirando dentro das escolas nos EUA, se ele os tivesse conhecido).

O Suicídio Altruísta: Durkheim o considera o extremo oposto do egoísta, como o nome já diz. É aquela coisa mais comum nos desenhos animados japoneses: o sacrifício. A pessoa que o faz está tão ligada à sociedade e/ou às pessoas que compõe seu meio (família, amigos, bitches) que está disposto a dar a própria vida se assim for necessário.Neste caso se enquadram também as pessoas que se matam por uma causa, ou melhor, que se sacrificam pela sua causa, como por exemplo as vítimas de greves de fome. Um exemplo moderno deste tipo de suicídio, que Durkheim obviamente não aborda por ser anterior a isso, são os kamikazes e os homens-bomba.

O Suicídio Anômico: Suicidar-se por anomia significa literalmente que alguém ou alguma coisa puxou o seu tapete. Esta é a forma de suicídio atribuída principalmente às pessoas cujo padrão de vida cai drasticamente, em outras palavras, dos ricos que perdem tudo e ficam pobres, ou dos políticos, reis, presidentes, que perdem o poder. Nenhum exemplo de suicídio anômico é tão bom quanto o de Cleópadra, Hitler e Getúlio Vargas, ou quanto às ondas de suicídio de empresários americanos durante a crise de 29. Um espertinho vai colocar o Salvador Allende nesta categoria também. Ok, eu até colocaria, se ele não tivesse “se matado” com 20 tiros de metralhadora na CABEÇA!

Existe também uma quarta forma de suicídio. Muitas pessoas a atribuem a Durkheim, porém esta quarta forma não está no livro “O Suicídio”, ela é na verdade um insight posterior do autor. Esta quarta forma é a seguinte:

O Suicídio Fatalista: o suicido fatalista é bem semelhante ao altruísta, mas ele não é exatamente um sacrifício. Esta é uma forma de suicídio que não existe em todas as sociedades, apenas em algumas como a sociedade judaica, japonesa , hindu e, na antiguidade, à sociedade greco-romana. Estas sociedades são caracterizadas por possuírem um código de conduta de honra bastante rígido, tão rígido que seus costumes ordenam a morte a todos que desviarem minimamente do código: é o famoso seppuku japonês, popular e vulgarmente conhecido como hara-kiri. Houve dois episódios muito famosos de suicídio fatalista bem semelhantes, um na antiguidade e outro bem recentemente: o da antiguidade foi o suicídio em massa cometido pelos judeus de Massada, uma fortaleza cercada pelos romanos. Com medo de serem escravizados e obrigados a cultuar ídolos pagãos (uma das coisas que a lei judaica mais abomina) toda a comunidade preferiu a morte. O caso recente é o da famosa sociedade alternativa de Jim Jones, o hippie americano dos anos 70 que reuniu milhares de seguidores para construir uma sociedade alternativa na floresta amazônica e que, quando as autoridades tentaram expulsá-los de lá, ele orquestrou o suicídio coletivo de 909 pessoas, incluindo o seu próprio.
O Suicídio fatalista, para Durkheim, era mais comum nas sociedades antigas, como a greco-romana, onde geralmente um cidadão se matava quando não se sentia mais útil à sociedade (não confunda com a noção de utilidade do suicídio egoísta!) por ter perdido sua honra ou por não poder ajudar seus compatriotas numa situação de guerra, por exemplo.

Durkheim também observa que o suicídio é mais comum entre pessoas que não pertencem a uma comunidade religiosa unida (principalmente não-católicos, no caso de criatãos), e entre pessoas solteiras e sem filhos. Os últimos dados ainda são válidos hoje, mas a questão religiosa mudou bastante nos últimos tempos, embora, de fato, a taxa de suicídio entre católicos permaneça bastante baixa (principalmente pelo fato desta religião condenar veementemente o suicídio).

Vocês observaram, portanto, como a relação entre Sociologia e História é estreita: fazendo uma rápida análise sociológica do suicídio nós já puxamos vários exemplos ao longo da História.
Antes de finalizar esta rápida resenha d’“O Suicídio” de Durkheim, eu gostaria de colocar alguns argumentos meus:
Primeiramente, apesar de Durkheim ser genial, estas teorias de suicido já estão relativamente ultrapassadas por que não incluem os suicídios causados por patologia (doenças, como Transtorno Bipolar II, por exemplo), no entanto é verdade que muitas destas patologias são agravadas pelo stress e pela cobrança social.
Outra coisa importante: eu gostaria aqui de desmistificar um dos principais mitos que dizem respeito às pessoas suicidas: popularmente se acredita que uma pessoa que realmente quer se matar vai e faz, sem dar muitas pistas e que as pessoas que vivem dizendo que querem morrer são posers/góticos que nunca vão fazê-lo de fato e que só querem chamar atenção. Não é exatamente isto que acontece (A MENOS QUE A PESSOA EM QUESTÃO SEJA EMO!!! Atenção para este detalhe!!!). Uma pessoa suicida, na maioria das vezes, deixa indícios CLAROS que vai se matar, as vezes ela não chega a dizer que vai, podendo até negar que o faria, mas seu comportamento, estado psicológico e linguagem corporal apontam claramente nesta direção. Eu não sou psiquiatra, portanto não sei dizer quais são estes sintomas direito, mas basta lembrar que o Getúlio Vargas chegou a escrever umas cinco cartas de suicídio ao longo de sua vida, algumas bem antes da famosa “saio da vida para entrar para a História”.
Este assunto não é brincadeira e para aqueles que resolverem reclamar dizendo que eu o estou tratando numa linguagem leviana eu lembro que já senti na pele a perda de uma pessoa querida por este motivo. Lembro também que só nos EUA cerca de 30.000 pessoas cometem suicídio POR ANO e que, segundo os psiquiatras e psicólogos, a maior parte destas mortes poderia ser evitada se os sintomas fossem percebidos a tempo.

Bem, por enquanto é só. Assim que eu recuperar meu bom astral eu posto algo mais light para vocês, posso até compensar com um post extra ao longo da semana ou sábado que vem (se eu ainda estiver vivo!!!!!)

Tenham uma ótima tarde chuvosa!!!