sábado, 6 de março de 2010

Adeus, Mundo Cruel!

Oi gente!
Pois é eu estava com um grande problema ontem à noite e hoje e o problema era justamente que o sábado estava chegando e o meu bom humor não estava voltando. Ora, como eu vou poder supri-los com História em linguagem acessível e bem humorada sem estar em condições para tal?
Eu não podia simplesmente deixar vocês, meus três leitores, sem uma postagem, até porque eu prometi fazê-lo todo sábado, então eu resolvi que postaria um assunto bem deprimente! Boa idéia, não?
Não?
Ah, que pena, vai ter que ser...

O assunto que eu trouxe hoje faz parte essencialmente da Sociologia, mas muito tem a ver também com a História (a propósito, tudo que tem que tem a ver com Sociologia tem a ver com História e vice versa, a História e a Sociologia devem, de forma ideal, andarem sempre de mãos dadas), portanto não é contradição eu postar alguma coisa sobre Sociologia de vez em quando.
Este assunto também tem muito a ver com psicologia, psiquiatria e com Antropologia Social em alguns casos: trata-se do suicídio.
O suicídio é uma prática extremamente antiga na civilização humana e os pensadores, dede Platão e Aristóteles, tentam explicar o que pode levar uma pessoa à cometer tal ato. Hoje em dia, para o alívio dos pesquisadores, nós já descobrimos perfeitamente a causa de pelo menos metade dos casos de suicídio: o movimento Emotional Hardcore, também conhecido como EMO. Mas os Emos não existiam até bem pouco tempo, por isso foi preciso que muitos pesquisadores se debruçassem sobre o assunto para tentar entender. Um dos mais importantes “recentemente” foi um famoso sociólogo chamado Émile Durkheim. Eu digo “recentemente” porque ele viveu no século XIX e início do XX, na chamada Belle Époque.
Para variar um pouco, Durkheim era um velhinho francês. Claro que ele nem sempre foi um velhinho, mas sempre foi francês. E como um bom francês daquele tempo ele se dedicou à boêmia e aos estudos. Eu poderia falar horas sobre a obra do monsieur Durkheim, mas eu gostaria de ir direto ao assunto que me interessa, o livro que ele publicou em 1897 e que será o principal foco do nosso post de hoje; o título deste livro era “O Suicídio” e ficou popularmente conhecido como “O Suicídio de Durkheim”, o que é realmente esquisito já que Durkheim não se matou (ele morreu por causa de um derrame com 59 anos, não era tão velhinho assim, mas todas as pessoas daquela época com mais de 40 eram velhinhas).
“O Suicídio” é um livro importante por ser uma das primeiras obras da Sociologia Empírica. TRADUÇÃO: O livro é importante porque foi um dos primeiros livros escritos que são considerados Sociologia séria, científica, e dessas que se ensina em faculdades e colégios. Quem decidiu isso: não sei.
O interessante é o seguinte, o nosso querido velhinho de hoje procura entender quais são os fatores que levam as pessoas a se matarem (excluindo a moda, que veio só depois da era Emo, posterior, portanto a Durkheim). Durkheim considerou como causas apenas fatores sociais, pois naquele tempo ainda não se tinha conhecimento sobre as doenças psicológicas e psiquiátricas (Freud ainda não era temdemsia), portanto, para Durkheim não existe tal coisa como doenças mentais que degradam a mente de uma pessoa levando-a a se matar: toda e qualquer causa de morte por suicídio é derivada de um fator social extremamente complexo.

TCELA SAP, POR FVAVOR!!!

Sim, sim, veja só, o Durkheim achava que a pessoa só se mata se ela não está se enquadrando bem no seu meio social ou se ela está se enquadrando bem demais. Ué, como assim? Perguntará você, vejamos.
O Durkheim faz uma seleção e percebeu que havia pelo menos três tipos diferentes de suicídio. Ei-los:

O Suicídio Egoísta: trata-se de quando a pessoa em questão perde a maior parte dos laços que a prendem à sociedade. É um fulano que praticamente não tem amigos, perdeu (ou nunca teve) a garota (ou o garoto), não se dá bem com a família e não se sente útil de forma alguma à sociedade. Diante de tanta mizerabilidade, ele pensa: ninguém vai sentir minha falta e zás! Acaba com tudo. (acho que o Durkheim encaixaria aqui aqueles malucos que saem atirando dentro das escolas nos EUA, se ele os tivesse conhecido).

O Suicídio Altruísta: Durkheim o considera o extremo oposto do egoísta, como o nome já diz. É aquela coisa mais comum nos desenhos animados japoneses: o sacrifício. A pessoa que o faz está tão ligada à sociedade e/ou às pessoas que compõe seu meio (família, amigos, bitches) que está disposto a dar a própria vida se assim for necessário.Neste caso se enquadram também as pessoas que se matam por uma causa, ou melhor, que se sacrificam pela sua causa, como por exemplo as vítimas de greves de fome. Um exemplo moderno deste tipo de suicídio, que Durkheim obviamente não aborda por ser anterior a isso, são os kamikazes e os homens-bomba.

O Suicídio Anômico: Suicidar-se por anomia significa literalmente que alguém ou alguma coisa puxou o seu tapete. Esta é a forma de suicídio atribuída principalmente às pessoas cujo padrão de vida cai drasticamente, em outras palavras, dos ricos que perdem tudo e ficam pobres, ou dos políticos, reis, presidentes, que perdem o poder. Nenhum exemplo de suicídio anômico é tão bom quanto o de Cleópadra, Hitler e Getúlio Vargas, ou quanto às ondas de suicídio de empresários americanos durante a crise de 29. Um espertinho vai colocar o Salvador Allende nesta categoria também. Ok, eu até colocaria, se ele não tivesse “se matado” com 20 tiros de metralhadora na CABEÇA!

Existe também uma quarta forma de suicídio. Muitas pessoas a atribuem a Durkheim, porém esta quarta forma não está no livro “O Suicídio”, ela é na verdade um insight posterior do autor. Esta quarta forma é a seguinte:

O Suicídio Fatalista: o suicido fatalista é bem semelhante ao altruísta, mas ele não é exatamente um sacrifício. Esta é uma forma de suicídio que não existe em todas as sociedades, apenas em algumas como a sociedade judaica, japonesa , hindu e, na antiguidade, à sociedade greco-romana. Estas sociedades são caracterizadas por possuírem um código de conduta de honra bastante rígido, tão rígido que seus costumes ordenam a morte a todos que desviarem minimamente do código: é o famoso seppuku japonês, popular e vulgarmente conhecido como hara-kiri. Houve dois episódios muito famosos de suicídio fatalista bem semelhantes, um na antiguidade e outro bem recentemente: o da antiguidade foi o suicídio em massa cometido pelos judeus de Massada, uma fortaleza cercada pelos romanos. Com medo de serem escravizados e obrigados a cultuar ídolos pagãos (uma das coisas que a lei judaica mais abomina) toda a comunidade preferiu a morte. O caso recente é o da famosa sociedade alternativa de Jim Jones, o hippie americano dos anos 70 que reuniu milhares de seguidores para construir uma sociedade alternativa na floresta amazônica e que, quando as autoridades tentaram expulsá-los de lá, ele orquestrou o suicídio coletivo de 909 pessoas, incluindo o seu próprio.
O Suicídio fatalista, para Durkheim, era mais comum nas sociedades antigas, como a greco-romana, onde geralmente um cidadão se matava quando não se sentia mais útil à sociedade (não confunda com a noção de utilidade do suicídio egoísta!) por ter perdido sua honra ou por não poder ajudar seus compatriotas numa situação de guerra, por exemplo.

Durkheim também observa que o suicídio é mais comum entre pessoas que não pertencem a uma comunidade religiosa unida (principalmente não-católicos, no caso de criatãos), e entre pessoas solteiras e sem filhos. Os últimos dados ainda são válidos hoje, mas a questão religiosa mudou bastante nos últimos tempos, embora, de fato, a taxa de suicídio entre católicos permaneça bastante baixa (principalmente pelo fato desta religião condenar veementemente o suicídio).

Vocês observaram, portanto, como a relação entre Sociologia e História é estreita: fazendo uma rápida análise sociológica do suicídio nós já puxamos vários exemplos ao longo da História.
Antes de finalizar esta rápida resenha d’“O Suicídio” de Durkheim, eu gostaria de colocar alguns argumentos meus:
Primeiramente, apesar de Durkheim ser genial, estas teorias de suicido já estão relativamente ultrapassadas por que não incluem os suicídios causados por patologia (doenças, como Transtorno Bipolar II, por exemplo), no entanto é verdade que muitas destas patologias são agravadas pelo stress e pela cobrança social.
Outra coisa importante: eu gostaria aqui de desmistificar um dos principais mitos que dizem respeito às pessoas suicidas: popularmente se acredita que uma pessoa que realmente quer se matar vai e faz, sem dar muitas pistas e que as pessoas que vivem dizendo que querem morrer são posers/góticos que nunca vão fazê-lo de fato e que só querem chamar atenção. Não é exatamente isto que acontece (A MENOS QUE A PESSOA EM QUESTÃO SEJA EMO!!! Atenção para este detalhe!!!). Uma pessoa suicida, na maioria das vezes, deixa indícios CLAROS que vai se matar, as vezes ela não chega a dizer que vai, podendo até negar que o faria, mas seu comportamento, estado psicológico e linguagem corporal apontam claramente nesta direção. Eu não sou psiquiatra, portanto não sei dizer quais são estes sintomas direito, mas basta lembrar que o Getúlio Vargas chegou a escrever umas cinco cartas de suicídio ao longo de sua vida, algumas bem antes da famosa “saio da vida para entrar para a História”.
Este assunto não é brincadeira e para aqueles que resolverem reclamar dizendo que eu o estou tratando numa linguagem leviana eu lembro que já senti na pele a perda de uma pessoa querida por este motivo. Lembro também que só nos EUA cerca de 30.000 pessoas cometem suicídio POR ANO e que, segundo os psiquiatras e psicólogos, a maior parte destas mortes poderia ser evitada se os sintomas fossem percebidos a tempo.

Bem, por enquanto é só. Assim que eu recuperar meu bom astral eu posto algo mais light para vocês, posso até compensar com um post extra ao longo da semana ou sábado que vem (se eu ainda estiver vivo!!!!!)

Tenham uma ótima tarde chuvosa!!!

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