domingo, 16 de maio de 2010

Coisas que nem todo mundo sabe sobre Paris - Parte 1

Oi, meus caros (três) leitores.
Espero que tenham gostado do vídeo que eu publiquei esta semana.
Hoje eu gostaria de compartilhar com vocês um pouco da experiência histórica que eu tive na minha rápida visita a Paris.
Bem, eu gostaria de fugir um pouco das coisas clássicas e muito conhecidas, ou daquelas coisas que você pode adquirir facilmente numa visita à wikipedia. Eu quero tocar em alguns detalhes um pouco menos conhecidos de Paris. Pelo menos eu espero que vocês não os conheçam!
Eu decidi que eu iria a Paris e ficaria hospedado no coração da cidade, isto é, bem no centro histórico, no local onde há mais de 2000 anos atrás tudo começou. Este lugar é um bairro pitoresco com ares de cidade de interior chamado Le Quartier Latin, isto é, o Bairro Latino. Ele não é chamado Bairro Latino porque lá se vende tacos e burritos, ou porque se toca macarena, tango ou salsa. O nome Bairro Latino faz alusão à língua latina da Roma Antiga, pois foi naquele local que os romanos construíram a primeira Paris no século I a.C.. A Paris romana se chamava Lutetia, ou Lutécia, e compreendia toda a região do atual Quartier Latin e a Îlle de la Cité, uma ilhazinha fluvial no rio Sena, junto ao Quartier Latin. Não era uma cidade muito grande a princípio, mas foi crescendo em importância e população ao longo do Império Romano, mas ao contrário do que muitos pensam, Lutécia não era capital da província romana da Gália, até porque não havia uma província da Gália, havia três! (como disse César, “Gallia est omnis divisa em partes tres”). Lutécia ficava na província chamada Gallia Lugdunensis, cuja capital era a cidade de Lugdunum, ou Lugduno, atual Lyon. Foi apenas no início da Idade Média, após o fim do Império Romano, que Paris se tornou, pela primeira vez, capital de algo, no caso o reino dos Francos. Foi no ano de 508 que isto aconteceu e o responsável foi um rei franco chamado Clóvis. Clóvis é considerado o primeiro rei da França, muito embora o nome “França” ainda não existisse naquela época. Eu não sei bem porque, mas eu acho muito engraçado dizer que o primeiro rei da França foi Clóvis. Sempre rio depois de falar isso. Mas deixa pra lá. O que você precisa saber de importante sobre Clóvis, é que ele NÃO é o Clóvis Bornay e que ele foi o primeiro rei cristão da França.
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Bem, não teria como não ter sido, não é? Afinal, ele foi o primeiro rei...
Mas geralmente lembram mais o fato dele ter sido um rei cristão que ter sido o primeiro rei da França, isto porque esta época, o século VI, era uma época em que o cristianismo ainda não havia se consolidado perfeitamente enquanto religião dominante da Europa e havia bárbaros vindo de tudo que é canto, invadindo a região que até pouco tempo havia sido o Império Romano, e nem todos estes bárbaros conheciam o cristianismo. Clóvis era um destes. Sim. Pasme, Clóvis era um bárbaro, um grande guerreiro bárbaro, rei da tribo dos francos, que era considerada um tribo bárbara. Clóvis se tornou rei com apenas 15 anos, mas já era um ser temível! Ele liderou os exércitos dos francos e conquistou toda a região das Gálias, que hoje é a França. Tanto é que a Gália com o passar do tempo passou a se chamar França. Francos – França, é meio óbvia a relação, não é?
Então, depois de fazer suas barbaridades e subjugar a “França”, Clóvis resolveu se fazer de bonzinho, foi fazer uma visita ao Papa (ou melhor, ele mandou chamar o Papa – a força – porquê se o Papa não vem a Clóvis, Clóvis manda um bando de seus guerreiros brutamontes e arrasta o véio até ele!) e se converteu ao cristianismo diante de Sua Santidade, numa das mais famosas cerimônias de Batismo da História.
Assim é muito fácil, não acha? Você faz todas as merdas, mata, queima, pilha e rouba, agride o Papa e então, depois que você já tiver tudo que você quer e não precisar mais cometer nenhum tipo de atrocidade, você diz que encontrou Jesus, se converte, é batizado e tem TODOS os seus pecados perdoados!
Você entendeu agora porque todos estes reis bárbaros que invadiram a Europa se converteram ao cristianismo? Ah, rapaz! Sagacidade!
Infelizmente pouca coisa restou da Paris desta época. Dentre estas poucas coisas estão umas pequenas ruínas romanas que ficavam na esquina da rua onde eu me hospedei. Sim, meu hotel ficava a cerca de uns 50 metros de distância de alguns dos últimos vestígios da Paris romana e alto-medieval. Estas ruínas eram um complexo de termas (casas de banho) que foram convertidos em igreja no início da Idade Média (mesma lógica, viu?). Hoje em dia lá funciona um simpático museu da Idade Média chamado Museu de Cluny, onde estão uma série de relíquias de monumentos, como estátuas originais da fachada da catedral de Notre Dame (se você já foi a Paris e se deslumbrou com a fachada esculpida de Notre Dame, esta é a hora em que eu destruo seus sonhos: é tudo fake. As estátuas originais estão no museu de Cluny para ficarem preservadas! Ainda assim, a Notre Dame é um lugar deslumbrante, para um Igreja dita “Gótica”). Mas uma das coisas mais interessantes que eu vi neste museu foram alguns objetos cotidianos medievais, como um livro que era um manual de luta com espadas e justa (aqueles torneios de cavaleiros, com lanças), que ensinava golpes passo a passo com ilustrações (poucos sabiam ler, mesmo entre os nobres), e uma coleção de tabuleiros de jogos, que incluía (ACREDITE!) xadrez/damas, gamão e resta um! Eu confesso que não sabia que já existia gamão e resta um na Idade Média!
Se você está em Paris e quer desvendar um pouco mais da era medieval, sem ficar na mesmice que todo mundo conhece das igrejas preservadas, como Notre Dame (embora você deva ir, porque é muito linda esta catedral!) e outras igrejas Góticas, vale a pena também visitar as catacumbas arqueológicas. Opa! O nome já soa bem legal, não é mesmo? Este é um típico turismo underground, com todos os trocadilhos, por favor. Para ter um gostinho destas catacumbas faça o seguinte: vá à Îlle de la Cité, na praça em frente à Catedral de Notre Dame. A direita de uma multidão de japoneses desesperados tirando foto você vai ver uma estátua verde gigante de um homem montado a cavalo. Não é um homem qualquer, é um rei, ou melhor, um imperador medieval, chamado Carlos Magno. Não vá até esta estátua, não é lá que ficam as catacumbas. Eu só falei dela porque é de um cara importante e talvez você queira tirar umas fotos dela. Então, voltando à multidão de turistas japoneses desesperados tirando foto, vire na direção oposta, à esquerda, no início da praça. Quer dizer que enquanto todo mundo estiver desesperado se acotovelando para entrar ou tirar uma foto da catedral, você vai poder ir tranqüilamente na direção oposta e até tirar uma onda e se fazer de besta, blasé, com o monumento gótico (em Paris isto não impressiona muito, no entanto. É normal ser besta e blasé...). Você vai ver uma escada praticamente sem turistas, com provavelmente um casal distraído, subindo as escadas decepcionado porque desceu e viu que não eram ali os banheiros. Ali em baixo não tem banheiros, tem uma catacumba arqueológica. Desça, pague 2 euros (menos de 6 reais) e entre, você vai ver uma infinidade de ruínas que se extendem por debaixo de toda a praça e até pó baixo da Catedral. Ali é uma confusão absoluta de eras. Você vai ver edifícios romanos em baixo de medievais, em baixo de renascentistas, tudo em baixo de uma galeria abandonada de esgoto do século XIX, todo fundido um no outro sem que você consiga perceber direito onde termina um e começa outro. Algumas plaquinhas eletrônicas vão te ajudar, você identifica na placa o que você quer ver nas ruínas, um armazém romano, por exemplo, então você vai apertar um botão na placa onde está escrito “armazém romano” e luzes vão iluminar o sítio arqueológico no local onde ficava o armazém. Você vai ver maquetes também, reconstituindo algumas das construções irreconhecíveis em ruínas. No final das catacumbas você vai ver as fundações da igreja medieval de Santa Genoveva, que foi demolida no fim do século XI e início do XII para a construção da catedral de Notre Dame. Sacanagem, né? Pobre da santa Genoveva, podiam pelo menos colocar uma imagem dela na Notre Dame...
Mais alguns vestígios da Paris Medieval podem ser vistos no Louvre, nos subterrâneos do museu, bem longe de onde as multidões se acotovelam para tentar tirar uma foto da Mona Lisa e da Vênus de Milo. Nestes subterrâneos você vai ter um encontro com o Castelo Medieval do Louvre, que foi residência de muitos dos reis franceses, inclusive de Francisco, ou François I, até que, mais ou menos na época deste rei, todo o castelo foi demolido para a construção de um palácio em estilo renascentista, que é o Louvre atual. O que você vai ver do castelo medieval são apenas fundações do baluarte (que é a torre principal) e das muralhas internas e uma maquete de como o complexo teria se parecido no auge de sua existência.
Puxa! Eu já escrevi tanta coisa e nem saí da Idade Média!
No próximo post eu vou lhes contar onde você pode encontrar algumas das personalidades da história intelectual e política franceça, tais como Russeau, Victor Hugo e Voltaire. Você vai saber também como que TODAS estas maravilhas da arte e da História mundial que podem ser admiradas hoje em Paris e seus monumentos belíssimos quase viraram poeira nas mãos dos nazistas.
Bem, até a próxima!

3 comentários:

  1. Essa parte do Louvre é aquela lá embaixo que tem um dizeres na parede em francês? Perto da parte que tem coisas de egito? o.o

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  2. Eh razoavelmente perto da parte de Egito sim. No subsolo, se não me engano seguindo em frente assim que você desce da Pirâmide de Vidro. É onde ficam as ruinas das fundações das muralhas do castelo e tem uma maquete lindíssima de como era o castelo, que inclusive parece um daqueles castelos do Loire, ou de contos de fada, com aqueles telhadinhos azuis hehehe.
    Curiosidade: quem pergunta? XD

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  3. Oi menino, qnto tempo!!!
    Nossa q legal q vc teve essa idéia de criar um blog! Tá ótimo! Parabéns!

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